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Berva Nascimento já se apresentou em diversos eventos do São João de Caruaru
Cladisson*
Berva Nascimento tem 24 anos e é uma das pessoas que fazem parte de transformações dentro das expressões culturais atualmente. Artista LGBTQIAP+, começou a dançar no ano de 2016 depois que foi convidado por um amigo para participar de uma quadrilha junina. Antes, assistia apresentações da dança no YouTube e Polo dos Brincantes, um dos espaços que fazem parte da programação do São João em Caruaru, região Agreste de Pernambuco. “Sempre achei lindo. Mas o encanto e amor pela quadrilha foi logo após o convite”.
Somente em 2018 recebeu o convite para dançar como dama na quadrilha Junina Luz do Candeeiro. Quando aceitou, lembra que recebeu muito apoio dos outros integrantes. Todos ficaram bem surpresos quando, no ensaio seguinte, já apareceu montada de Beatriz, sua drag queen. “Era o que eu me identificava mais: o luxo das damas, o close, a saia e tudo. Sempre fui apaixonado, porém nunca tive coragem e tinha muito medo de dançar [como dama], pois não sabia se a quadrilha deixaria”, lembra o brincante.
Berva destaca a importância que o São João tem em sua vida, pois considera o momento mais esperado do ano. “Beatriz é o meu segundo eu e trazer ela no arraial é me sentir realizado em mostrar meu talento”. Nas redes sociais faz questão de demonstrar seu orgulho pela personagem: “Sou forte, sou guerreira e vou calar a boca de todos. Vão ter que aceitar uma drag sim. Uma drag linda, maquiada e cheirosa! Uma drag que já enfrentou a homofobia, que luta todos os dias contra isso! E saibam que eu nunca vou me calar! Eu sou muito forte sim!”, escreveu em uma das publicações.
O jovem enfatiza que, na quadrilha, uma “drag queen sempre se comporta como uma dama com leveza, carisma e muito close!”. Percebe as mudanças que a cultura popular passa e considera muito importante a presença de pessoas LGBTQIAP+ nas quadrilhas: “as gays, trans, travestis e drags estão ocupando seus espaços nos arraiais”. Mais três drags e uma trans também fazem parte da equipe. Ele reconhece que sua participação como brincante o fez entender mais sobre si mesmo: “eu tinha que dançar como me sentia à vontade e foi daí que decidi dançar como dama, onde me identifiquei”.
O artista fala que já recebeu uns olhares estranhos do público enquanto dançava de drag, mas que foi sempre respeitado pelos componentes das duas quadrilhas que fez parte. Lembra também que antigamente, em Maceió, drag queens não podiam dançar como damas, apenas mulheres cis eram permitidas. “Mas isso já foi resolvido. Nunca tive problema com isso”.
Sobre a presenças de pessoas LGBTQIAP+ na cultura popular e especificamente nas quadrilhas juninas, Berva acredita ser importante para mostrar ao público que “não devemos julgar ou opinar sobre algo ou alguém, mas sim respeitar que todos podem participar de qualquer coisa”.
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* Matéria produzida pelo projeto de extensão Reportagens Especiais do Observatório da Vida Agreste (OVA), parceiro da Marco Zero Conteúdo. O OVA está ligado ao Curso de Comunicação Social da UFPE do Centro Acadêmico do Agreste (CAA).
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