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Vereador bolsonarista tenta dar voz de prisão a professor na Câmara Municipal do Recife

Jeniffer Oliveira / 30/06/2025
A imagem mostra uma cena de tensão e discussão acalorada entre algumas pessoas, capturada em um espaço interno. Em primeiro plano, à esquerda, está Eduardo Moura, um homem branco, de barba curta e cabelo escuro, vestindo terno cinza-claro, camisa azul e gravata escura. Ele está com expressão intensa, aparentemente gritando, e aponta o dedo indicador para o rosto de um homem à direita (que está de costas e veste um boné escuro e um colete com a palavra “GCM”, indicando ser da Guarda Civil Municipal). Logo atrás de Eduardo Moura, ao centro da imagem, estão duas mulheres. A mais próxima dele é Cida Pedrosa, mulher branca, ruiva, de óculos, com expressão exaltada e boca aberta como se estivesse gritando ou argumentando com veemência. Atrás dela está Jô Cavalcanti, mulher negra, de óculos, cabelo crespo preso para cima, vestindo roupa preta. Ela também parece estar protestando ou gritando, com um braço erguido e dedo apontado para cima.

Crédito: Cortesia

A manhã desta segunda-feira (30) foi marcada por muita tensão e confusão entre o vereador Eduardo Moura (Novo) e os professores e professoras da rede municipal do Recife, durante a sessão na Câmara dos Vereadores para votar projeto que regulamenta remuneração dos servidores públicos. Segundo o Sindicato Municipal dos Profissionais de Ensino da Rede Oficial do Recife (Simpere), o parlamentar teria se ofendido ao ser chamado de racista e fascista por profissionais que estavam na galeria acompanhando a votação.

Os professores teriam se manifestado em represália durante fala do parlamentar que, em maio deste ano, arrancou uma faixa do sindicato com a frase “Por uma educação antirracista” que estava afixada numa escola municipal. Em um posicionamento oficial nas redes sociais, o Sindicato o acusou de ter cometido um “ato racista, violento, e em desacordo com os princípios da Constituição e das leis que garantem a liberdade sindical e o direito à educação com compromisso social”.

No momento mais tenso do tumulto, ele se retirou e se dirigiu para o corredor que dá acesso às galerias onde estavam as professoras. Ele disse que daria voz de prisão a um dos dirigentes do Sindicato, porém as sindicalistas e outros parlamentares acreditam que ele pretendia agredir professores que o acusaram de racista. De uma forma ou de outra, ele não teve sucesso. “O Simpere considera essa postura uma grave ameaça à democracia e à liberdade de organização dos trabalhadores e trabalhadoras da educação”, reitera a nota.

Em vídeos compartilhados nas redes sociais, é possível ver um grupo de vereadores impedindo que Moura subisse à galeria para confrontar os professores, entre eles Osmar Ricardo (PT), Cida Pedrosa (PCdoB), Jô Cavalcanti (PSOL) e Liana Cirne (PT). Depois, os professores que seriam os alvos do bolsonarista saíram escoltados pelas três vereadoras.

Também foi decisiva a postura do presidente da Câmara, Romero Jatobá Filho (PSB), que não autorizou a entrada da Polícia Militar no espaço onde estavam as professoras e professores.

Em “nota de repúdio”, Eduardo Moura se posiciona afirmando que a confusão começou porque um integrante do Simpere incitou os manifestantes, o chamando de racista e fascista. “Tal acusação falsa e criminosa foi questionada pelo parlamentar, que indagou o comportamento agressivo e a imputação de crime de racismo, enquanto, falava na tribuna. Mesmo com os pedidos para que as acusações parassem, o integrante do sindicato continuou a chamar o parlamentar de racista”, diz a nota.

A nota ainda afirma que o “parlamentar defende a democracia e a liberdade de expressão, mas repudia toda e qualquer expressão contra a honra e dignidade de qualquer pessoa, inclusive de parlamentares. E rejeita veementemente qualquer tipo de ação ou comportamento desrespeitoso que incitem a desordem pública”. O vereador afirmou que vai registrar boletim de ocorrência na Delegacia da Polícia Civil de Pernambuco.

A imagem mostra uma manifestação com dezenas de professores reunidos no estacionamento da Câmara dos Vereadores do Recife. A maioria está vestindo roupas vermelhas e segura cartazes vermelhos com frases exigindo respeito aos direitos dos professores. No centro, um grande cartaz diz: “João Campos, tire as mãos dos precatórios das professoras e professores!”.

Representantes dos professores fizeram protesto contra a prefeitura na Câmara

Crédito: Cortesia/ Ascom SIMPERE

O ato público dos professores na plenária reivindicava a retirada do art. 86, do Projeto de Lei 17/2025, em que a Prefeitura do Recife prevê ceder os recursos do precatório do Fundo de Manutenção e desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) para a compra de cartas de crédito em instituições financeiras para o pagamento do reajuste salarial dos profissionais da educação.

O documento também fala que os valores serão destinados a “a ações ou programas para manutenção e desenvolvimento do ensino ou despesas de capital para a educação básica pública, assim como para o pagamento dos abonos dos arts. 82 e 85”, que prevêem abono único para para os Auxiliares de Desenvolvimento Infantil – ADI e Apoio ao Desenvolvimento Escolar Especial – AADEE e para ocupantes de cargo efetivo e aposentados com paridade, integrantes do Grupo Ocupacional do Magistério. Apesar da pressão dos profissionais o projeto foi votado e aprovado sem alterações.

Curiosamente, o bolsonarista Eduardo Moura pretendia apresentar emendas e destaques ao projeto da prefeitura, mas acabou não fazendo a defesa de suas propostas, preferindo ir à delegacia formalizar a queixa.

AUTOR
Foto Jeniffer Oliveira
Jeniffer Oliveira

Jornalista formada pelo Centro Universitário Aeso Barros Melo – UNIAESO. Contato: jeniffer@marcozero.org.