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Ações de redes e ruas mobilizam apoio eleitoral a candidaturas de ativistas na América Latina

Mariama Correia / 01/09/2019

selo ocupa políticaA mexicana Susana Ochoa concorreu ao cargo de deputada no México, durante as eleições de 2018. Ela integra o movimento Wikipolítica, que reúne jovens de esquerda e, em 2015, elegeu o ativista Pedro Kumamoto para o Congresso de Jalisco, um dos estados mexicanos. Pedro foi o primeiro candidato independente a se eleger para o legislativo local.

O movimento ao qual Susana e Pedro pertencem é considerado uma experiência inovadora no México, tanto pelas estratégias de financiamento, quanto pelas abordagens de engajamento do eleitorado. A campanha de Susana, por exemplo, contou com doações simbólicas de apoiadores. A experiência dela aponta caminhos para viabilizar candidaturas sem muitos recursos.

Tinha gente que doava US$ 1”, lembrou durante sua participação no Ocupa Política 2019, no Recife. Entre micro e macro doações, a candidata conseguiu mobilizar US$ 9 milhões para a campanha, mesmo existindo um limite de US$ 7 mil por doador, no México. A campanha também mobilizou o trabalho voluntário de seis mil pessoas.

As candidaturas independentes, como no caso mexicano, não fazem parte da realidade do Brasil porque a legislação eleitoral daqui exige a filiação partidária. Mas alguns exemplos locais guardam semelhanças com os modelos inovadores experimentados nesse e em outros países da América Latina. Depois da proibição de doações de pessoas jurídicas e das mudanças de regras para a distribuição de recursos no Brasil, outras alternativas de arrecadação como o financiamento coletivo de campanhas (crowdfunding) passaram a ser exploradas.

Um exemplo de uso desses recursos é a Bancada Ativista de São Paulo, um movimento pluripartidário que busca colocar ativistas na política institucional. No ano passado, a Bancada Ativista elegeu uma candidatura coletiva com nove ativistas de diferentes territórios e áreas de atuação para a Assembleia Legislativa de São Paulo, um modelo parecido com o das codeputadas Juntas (Psol), eleitas deputadas estaduais em Pernambuco em 2018.

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A candidatura coletiva da Bancada Ativista conquistou o mandato na Assembleia Legislativa de São Paulo fazendo uma campanha de “baixo custo e alta intensidade”

A antiga fórmula de ouro da política, uma soma de dinheiro mais apoio partidário, está ultrapassada, na opinião de Caio Tendolini, um dos fundadores do movimento. Para ele, é possível eleger com poucos recursos e sem o apoio majoritário da legenda, porque “os partidos têm suas filas de candidatos”. 

Ele listou alguns elementos essenciais para uma campanha de “baixo custo e alta intensidade”. “O primeiro é a construção de uma narrativa forte. Por exemplo, no nosso caso optamos pela linha da esperança em oposição ao medo”, explicou.

A força do on-line e a presença nas ruas

Campanhas nos moldes das realizadas por esses novos grupos políticos quase sempre se tornaram possíveis por um fator em comum: a força da internet e das redes sociais.  Mas a inovação não surge ou pode se restringir apenas ao ambiente on-line.

“É importante ter uma base de suporte estabelecido no off-line para que a campanha cresça no ambiente digital”, considerou Caio Tendolini, destacando que a capilaridade da internet precisa andar junto da estratégia de rua. 

Durante sua participação no Ocupa Política 2019, Rodrigo Echecopan, do movimento Frente Amplio, do Chile, lembrou que é importante conquistar o apoio de indivíduos, “mas também dos movimentos que estão trabalhando pelo interesse coletivo”.

Rodrigo Echecopar

Rodrigo Echecopan, da Frente Amplio do Chile, defende a busca de apoio eleitoral de movimentos com causas coletivas

Sim, a internet amplia as oportunidades de conquista do eleitorado, concordam os ativistas e candidatos. Porém,  esses canais trazem novos desafios. “Na primeira campanha que realizamos, em 2012, fizemos uso massivo do WhatsApp e do Facebook. Já em 2018 essas ferramentas foram amplamente utilizadas por candidaturas de direita. Inclusive o uso de dados dos usuários dessas redes para fins eleitorais estão sendo questionados atualmente”, lembrou Alejandra Parra, ativista mexicana que atuou no gabinete de campanha de Pedro Kumamoto, do Wikipolitica.

O desafio de criar um partido

A mobilização de recursos é um dos grandes desafios enfrentados pelos novos atores políticos. Não o único. Outros fatores como a burocracia e o engessamento de leis eleitorais atravancam, por exemplo, a criação de novos partidos.

Atenas Vargas, do movimento Soberanía y Libertad, foi a candidata mais jovem da Bolívia nas eleições de 2009. Em cinco anos de existência o Soberania já elegeu 25 pessoas, mas para se estabelecer enquanto partido precisava colher 120 mil assinaturas. “É exigido o preenchimento de formulários que depois são analisados. Conseguimos mais do que o necessário, contudo nem todos os formulários foram aceitos porque somos oposição.”

Para ser registrado, o Futuro, um partido regional formado a partir do Wikipolitica, no México, precisa colher 20 mil assinaturas. “ Até agora conseguimos a metade. Também temos que cumprir a exigência de realizar assembleias em dois terços dos municípios do estado em um ano, o que é grande um desafio logístico. Estamos correndo para completar metade das assembleias até dezembro”, conta Alejandra Parra.

AUTOR
Foto Mariama Correia
Mariama Correia

Jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e pós-graduada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Foi repórter de Economia do jornal Folha de Pernambuco e assinou matérias no The Intercept Brasil, na Agência Pública, em publicações da Editora Abril e em outros veículos. Contribuiu com o projeto de Fact-Checking "Truco nos Estados" durante as eleições de 2018. É pesquisadora Nordeste do Atlas da Notícia, uma iniciativa de mapeamento do jornalismo no Brasil. Tem curso de Jornalismo de Dados pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e de Mídias Digitais, na Kings (UK).