Apoie o jornalismo independente de Pernambuco

Ajude a MZ com um PIX de qualquer valor para a MZ: chave CNPJ 28.660.021/0001-52

Assembleia abre trabalhos com discurso burocrático do governador e disputa por comissões

Maria Carolina Santos / 04/02/2019

Paulo Câmara na Alepe

Quem entrasse no plenário da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), sem saber absolutamente nada sobre a política pernambucana, poderia acreditar que o deputado mais votado no estado foi Paulo Dutra (PSB), suplente que assumiu nesta segunda-feira. Com vans que vieram do interior, como Surubim e Timbaúba, ele e o também empossado hoje Sivaldo Albino (PSB), ex-vereador de Garanhuns, encheram a plateia da Alepe. Uma algazarra se ouvia toda vez que os dois nomes eram anunciados.

Do lado de fora, um assessor parlamentar esnobou a plateia. “Tudo atrás de um comissionado!”. A delegada Gleide Angelo, a verdadeira dona da popularidade, com mais de 412 mil votos, ficou quietinha na reunião no plenário, que durou pouco mais de uma hora e meia. Quando o governador Paulo Câmara (PSB) chegou, ela o cumprimentou com um aceno no ar, de longe. Passou boa parte da reunião conversando com suas vizinhas de cadeira: do lado direito, Fabíola Cabral (PP), do esquerdo, Jô Cavalcanti (Juntas, Psol).

bannerAssine

A ida do governador à Assembleia no dia de abertura dos trabalhos da nova legislatura está prevista na Constituição pernambucana. A ideia é que ele possa oferecer aos novos e velhos parlamentares um resumão de como está a situação de Pernambuco. A depender do que disse o governador, tudo segue muito bem.

O discurso de Paulo Câmara durou pouco mais de 18 minutos e faria qualquer agência de fact-checking lamber os beiços. A cada frase, ele citava um número, quase sempre acompanhado de dois apostos: um “mesmo na crise financeira”; o outro “o maior da história” – ou alguma variante como um “recorde”.

Como o projeto Truco já fez o trabalho, vou só repetir aqui. O governador, por exemplo, falou que em 2018 o estado teve a maior queda de assassinatos desde que o Pacto Pela Vida foi implantado, em 2007. É verdade, mais isso só aconteceu porque no ano anterior (em 2017, quando ele também era governador) houve uma explosão de violência.

Falou também que Pernambuco era o estado com menor evasão escolar do Brasil. Está certo, mas quando se leva em conta apenas o ensino médio (1%): no ensino fundamental, o percentual sobe para 1,7%, o que deixa o estado na terceira posição. Também falou, e acertou, que o governo do estado investiu mais de R$ 18 bilhões em saúde.

Foi um discurso burocrático, padrão, cheio de dados já divulgados e de elogios à forma “republicana” com que a Casa Joaquim Nabuco é conduzida. Pudera, não há urgência em seduzir: dos 49 deputados, 38 estão na situação, um independente (as codeputadas do Juntas) e apenas dez na oposição.

Em entrevista, Paulo Câmara afirmou que ainda não há projetos urgentes para serem enviados à Assembleia. “Temos uma secretaria nova, de prevenção e combate às drogas, então muita coisa ainda vai ser apresentada”, disse.

Disputa por comissões

Passada a posse e a votação dos cargos na Mesa Diretora, os deputados e deputadas se dedicam nesta semana à disputa pelas comissões da Casa, um total de 15 (mais a de Ética, representativa). O líder da oposição, Marco Aurélio (PRT), diz que “pediu” cinco presidências e vai brigar por quatro, depois que o presidente da Alepe Eriberto Medeiros (PSB) ofereceu três.

“Temos deputados que querem as comissões de economia, turismo, cidadania, esportes e outro quer uma (comissão) que não lembro o nome”, disse Marco Aurélio, aos poucos jornalista presentes.

O líder do governo foi apresentado hoje e continua sendo Isaltino Nascimento (PSB). “Estamos ouvindo a bancada e o governo e até amanhã à noite vamos definir os pleitos, de titular e suplente. Quarta e quinta-feira definiremos tudo”, disse.

Segundo Isaltino, Waldemar Borges tem preferência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), pois era o presidente na legislatura passada. “Nas demais há um conflito de interesses, com mais de um partido ou uma pessoa pleiteando”, diz.

Lucas Ramos, reeleito, pleiteia a Comissão de Finanças. A Comissão de Cidadania e Direitos Humanos é disputada pelas Juntas, independente, e também por Clarissa Tércio, do PSC, que ficou na oposição ao governo.

AUTOR
Foto Maria Carolina Santos
Maria Carolina Santos

Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Contato: carolsantos@marcozero.org