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Em ato modesto em Casa Amarela, Danilo Cabral corre contra o desgaste do PSB

Maria Carolina Santos / 30/09/2022
Danilo Cabral usa camisa vermelha e calça jeans, posicionado no canto esquerdo da imagem, ele se dirige à multidão que está, em sua maioria de camisas amarelas, em um ambiente aberto e pouco iluminado.

Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

O último comício de Danilo Cabral (PSB) para o primeiro turno da eleição para o Governo de Pernambuco teve concentração na rua Mandacaru, em Casa Amarela, zona norte do Recife. Era para ser uma caminhada de cerca de um quilômetro, seguida de discursos. Quase duas horas e meia depois do horário marcado, Danilo chegou à estreita rua acompanhado do prefeito do Recife, João Campos (PSB), e de um irmão dele, Pedro Campos (PSB), candidato a deputado federal. Não foi uma caminhada: foi literalmente uma corrida, que só teve fim ao chegar ao palco montado no largo de Casa Amarela, por trás da feira.

Na corrida, houve quase nenhum tempo para cumprimentar as poucas pessoas nas calçadas ou nas janelas e lajes das casas. O mais frequente eram pedidos de selfies e apertos de mão na própria militância. Foi, na verdade, uma corrida com obstáculos: sem que as ruas tivessem sido fechadas para o ato, era preciso desviar de carros, ônibus e até caminhões na rua Mandacaru e em alguns becos que serviram como rota alternativa para fugir do tráfego.

A militância e os políticos também corriam disputando espaço com o esgoto que escorria a céu aberto, bocas de lobo abertas e mil buracos nas ruas. Tudo no ato foi modesto, da escolha das ruas, estreitas, ao palco montado por trás da feira de Casa Amarela, contrastando com a caminhada de força de Marília Arraes (SD) bem no centro do Recife. Fora a Marco Zero, não havia imprensa cobrindo o ato de Danilo.

Nos discursos, o mais comum foram ataques a Marília, na dianteira das pesquisas, e pedidos de votos direcionados a uma plateia enxuta, formada por pessoas que pareciam ter saído direto do trabalho e por militantes com camisas amarelas. Quase não se via pessoas com as cores vermelhas do PT. O próprio Danilo era um dos poucos de vermelho.

Os ataques mais pesados contra a candidata do Solidariedade vieram do ex-companheiro de partido Humberto Costa (PT) e do primo João Campos. Parafraseando o economista e personalidade da TV Gil do Vigor, o senador petista afirmou que a Frente Popular não chegou onde chegou para “perder para basculho”. João Campos disse que não dava para entregar o estado na mão de uma irresponsável, citando as vezes em que ela faltou a votações importantes na Câmara Federal.

Danilo fez um discurso mais propositivo. Focou em agradecer, em falar do legado de Miguel Arraes e Eduardo Campos e do que fez pela educação de Pernambuco. Como pela lei eleitoral só até a quinta-feira (29) os candidatos poderiam pedir votos em comícios, foi isso que fez em boa parte do discurso, pedindo que todo mundo que estava ali falasse com outras pessoas para votar nele.

Em entrevista à Marco Zero após o evento, Danilo Cabral mostrou-se confiante para ir ao segundo turno. Disse que é o candidato que mais cresceu desde o começo das pesquisas de intenção de votos e que já se deslocou de Miguel Coelho (UB), Anderson Ferreira (PL) e Raquel Lyra (PSDB). “Nas nossas internas, já estamos no segundo turno. Somos o único candidato que saiu do traço para 15%, 16% nas internas e com crescimento maior ainda. Acho que vamos chegar na eleição perto de 20%”, afirmou, falando que o foco nestes últimos dias é em carreatas na Região Metropolitana do Recife.

Sobre a participação do principal cabo eleitoral de sua campanha, o ex-presidente Lula (PT), Danilo Cabral afirmou que foi a “melhor possível”, ainda que Lula tenha visitado Pernambuco apenas uma vez, nos já longínquos dias 20 e 21 de julho, ainda na pré-campanha. “Ele declarou de forma oficial e publicamente que de fato somos o único palanque dele aqui em Pernambuco. A agenda dele cabe a ele organizar. Estou muito feliz e orgulhoso de ter o apoio do presidente Lula, o melhor presidente do Brasil, e de ele chegar no seu estado e dizer que você é o candidato dele. O compromisso que ele tem conosco é de inclusive também estar aqui no segundo turno”, disse Danilo.

A MZ também tentou falar com o prefeito João Campos. Após a repórter se apresentar e antes da pergunta, ele pediu “um minutinho”. Mas imediatamente se virou e desceu a rampa, não retornando mais ao palco. A MZ tinha apenas uma pergunta ao prefeito: por que a CTTU, responsável pelo trânsito na cidade, não coordenou o fechamento das ruas durante o ato final de campanha do candidato do próprio PSB?

Aliados apostam na força política da Frente Popular

Enquanto Danilo Cabral não chegava à concentração do ato, alguns políticos aliados foram trocando impressões sobre as eleições. Um dos primeiros a chegar por lá foi Franscismar (PSB), deputado estadual que busca a oitava legislatura e sempre teve votações expressivas em Casa Amarela. Quando questionado sobre as chances de Danilo, foi sucinto: “você vai ver quando abrir as urnas. Danilo vai sair na frente e vai para o segundo turno”.

Assim como outros políticos ouvidos pela reportagem, o ex-vice prefeito do Recife Luciano Siqueira (PCdoB) afirmou que é uma eleição atípica e que, em mais de 40 anos disputando majoritárias, nunca viu uma situação parecida, com cinco candidaturas competitivas.

“Por um triz, um dos quatro irá ao segundo turno com Marília. Eu acredito que será Danilo, porque há uma variável muito importante: quem tem mais palanque. No linguajar da política, significa quem tem uma rede de apoio maior espalhada pelo estado. Acredito nisso, embora cada vez mais, e é muito positivo que assim seja, o eleitorado, sobretudo urbano, vai escolhendo seus candidatos por conta própria”, afirmou Siqueira, em entrevista à MZ.

Danilo Cabral usa camisa vermelha e calça jeans, de costas, ele se dirige à multidão que está, em sua maioria de camisas amarelas, em um ambiente aberto e pouco iluminado.

Último comício aconteceu em local simbólico para Frente Popular. Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

Ele também apontou duas razões para Danilo não ter decolado nas pesquisas, mesmo com maior apoio político e o apoio de Lula. “O PSB já governa há 16 anos e veio a pandemia, e o ambiente social da pandemia não destoou os bons dos maus governantes. Foram sete anos de crise e há um desgaste natural de 16 anos no governo. Outro ponto é que Danilo, a despeito de ser um homem com mais de 30 anos de vida pública, nunca tinha disputado uma majoritária. Então a candidatura dele é lançada com certo atraso e tem o tempo de apresentá-lo ao público. Se ele passar para o segundo turno, em 20 dias a disputa vai se igualar”, acredita.

Para a vice-governadora, Luciana Santos (PCdoB), também vice na chapa de Danilo, mesmo com o desgaste dos 16 anos de governo, a Frente Popular tem uma “máquina azeitada e pronta para o investimento”, na expectativa de fazer uma dobradinha com Lula na presidência. “Apesar da covid-19, temos o plano Retomada com R$ 5 bilhões, demonstrando como a máquina está pronta para fazer os investimentos ainda mais amplamente”, disse. “Por mais que tenha desgaste, 16 anos no governo mostram a consistência de uma frente que conseguiu adensar o que há de melhor na política pernambucana e do Brasil”, falou.

Também presente no comício, o deputado e candidato Eriberto Medeiros (PSB) afirmou que é a estrutura política da Frente Popular que vai fazer a diferença nas urnas. “Danilo Cabral tem um volume de distribuição e representatividade em todo o estado, principalmente na RMR, onde se concentram mais votos. Tem mais estrutura, mais candidatos que o apoiam, mais prefeitos que o apoiam. Na verdade, temos visto que o distanciamento da política tem aumentado na população. Não se engajam durante toda a campanha, deixam muito para a última hora. E acho que isso vai beneficiar Danilo, principalmente na RMR”, afirmou à Marco Zero.

Como mostrou reportagem da Marco Zero, vários aliados da Frente Popular no papel estão, na prática, fazendo campanha para Marília ou simplesmente ignorando Danilo. O presidente estadual do PSB, Sileno Guedes, presente no comício, afirmou que isso é algo natural e que acontece em todas as eleições. “Não é uma novidade, mas o que precisa ser novidade é uma posição mais firme dos partidos no sentido de coibir essas atitudes. Vamos discutir isso no PSB após as eleições”, afirmou.

Base petista distante de Danilo

Em todo o comício, o que se viu foram camisas amarelas e bandeiras dos candidatos do PSB, como Pedro Campos, e de outros partidos da Frente, como Raul Henry (MDB). Além de lideranças como Humberto e Teresa Leitão (PT), candidata ao Senado, a presença petista era tímida. No palco, além dos dois, estava a vereadora Liana Cirne Lins (PT), candidata à Câmara Federal.

Para André Campos (PSB), faltou adesão das bases do PT à campanha de Danilo. “Essa é uma eleição que não é polarizada, tem cinco candidatos para dividir os votos. Marília conseguiu até agora vincular o voto nela a Lula, tanto é que você vê que a base petista está votando em Marília e Teresa Leitão (para o Senado)”, afirmou, dizendo também que a aliança do PSB com o PT tem funcionado mais para o PT. “Mas é algo natural. Tivemos uma eleição muito acirrada para a prefeitura (Marília Arraes, então PT, contra João Campos) e a base do PT, mesmo com todo apoio das lideranças, não veio junto para a campanha de Danilo. Mas pode ser que isso mude até o dia da eleição”, acredita.

Já Humberto Costa afirmou que a militância petista está engajada. “Há apenas um grupo pequeno que decidiu não cumprir a decisão do partido, mas que não tem expressão política nem dentro nem fora do partido”.

O senador também defendeu a participação de Lula na campanha de Danilo. “Ele disse, por repetidas vezes, que o único candidato dele em Pernambuco é Danilo”, disse à MZ. “Ele virá aqui para o segundo turno. Mas claro que ele tinha que agora dar prioridade aos estados do sul e do sudeste que podem garantir a vitória no primeiro turno”.

Para Luciano Siqueira, entrar mais forte do que Lula entrou na campanha de Danilo “é praticamente impossível”. “Desde o início da campanha que Lula tem se pronunciado e veio aqui e justificou o apoio e o entrosamento com a candidatura de Danilo e tem feito isso até agora. Essa aliança tem sido sólida e vai continuar sólida”.

A vice-governadora Luciana Santos considerou a campanha muito curta, de apenas 45 dias. “É natural que, nessa fase, Lula se concentre para atender os maiores colégios eleitorais. O mais importante é que ele gravou com Danilo e Teresa em São Paulo. Não há dúvidas de qual é o time dele aqui no estado”, afirmou.Lula marcou agenda, nesta sexta (30), no Ceará e na Bahia, para alavancar seus candidatos, respectivamente Elmano de Freitas (PT) e Jerônimo Rodrigues (PT).

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AUTOR
Foto Maria Carolina Santos
Maria Carolina Santos

Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Ávida leitora de romances, gosta de escrever sobre tecnologia, política e cultura. Contato: carolsantos@gmail.com