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“Para estar do lado de Lula, não precisa de acordo”, diz Marília Arraes em último comício

Raíssa Ebrahim / 30/09/2022
Foto em ambiente de rua e noturno, com caminhonete ao centro. Na carroceria vão Marília Arraes, ao centro, Sebastião Oliveira do lado direito e André de Paula, no esquerdo. Ao redor do carro uma multidão de pessoas carregando bandeiras e muitos papéis picados no ar

Crédito: Tiago Calazans

Líder nas pesquisas para o Governo de Pernambuco, Marília Arraes (SD) – ausente em todos os debates e na expectativa de com quem disputará um segundo turno atípico e dado como certo – reuniu milhares de pessoas e dezenas de ônibus na noite de quinta-feira (29), no Centro do Recife. Cercada de vermelho, reafirmando estar ao lado de Lula – mesmo não sendo a candidata oficial do ex-presidente – e embalada pelos jingles chicletinho “Marilhou” e “Lá na urna, ninguém esquece, Marília é 77”, ela escolheu, para seu último ato de campanha na rua, um percurso tradicional das manifestações da esquerda pernambucana.

No critério de quantidade de público, foi um evento que demonstrou mais força que o de Danilo Cabral (PSB), candidato da situação que tenta chegar ao segundo turno. Ele escolheu Casa Amarela, na zona norte, reduto histórico da Frente Popular, desde os tempos de Miguel Arraes, e da família do ex-governador Eduardo Campos, como local de seu último comício, no mesmo dia.

No alto de uma picape, após uma chegada tumultuada, Marília esteve acompanhada dos integrantes da Coligação Pernambuco na Veia, com seu vice, Sebastião Oliveira (Avante), o candidato ao Senado André de Paula (PSD) e a sua irmã e candidata à Câmara Federal, Maria Arraes (SD). Depois da concentração que interrompeu o trânsito em frente à Câmara de Vereadores, o ato seguiu do Parque 13 de Maio para um comício no Pátio do Carmo, passando pela avenida Conde da Boa Vista, com boa parte da militância levada pelos prefeitos e pelos candidatos proporcionais da coligação.

À reportagem, ela disse que está trabalhando para vencer no primeiro turno, mas que, se a disputa prosseguir no segundo turno, vai continuar defendendo o campo político da democracia e em defesa de Lula e respeitará a vontade dos pernambucanos. “Se houver segundo turno, é uma outra eleição, principalmente nessa situação bastante inusitada que a gente está vivendo em Pernambuco, que é a indefinição de quem iria para o segundo turno”, colocou.

As pesquisas vêm mostrando um cenário de empate, dentro da margem de erro, para o segundo lugar. De acordo com o mais recente levantamento do Ipec, divulgado na terça-feira (27), Marília lidera com 34%. Na sequência, vêm Raquel Lyra (PSDB), com 15%, Miguel Coelho (União Brasil) e Danilo Cabral (PSB), empatados numericamente com 13%, e Anderson Ferreira (PL), com 11%.

Questionada sobre as costuras que estão sendo feitas e se buscaria apoio de Anderson, como fez no segundo turno para a Prefeitura do Recife, em 2020, quando perdeu para o primo, João Campos (PSB), Marília descartou: “Anderson já escolheu o lado dele, Anderson defende Bolsonaro, eu não posso estar junto de Bolsonaro”.

Antes de partir para a caminhada, ainda durante conversa com a imprensa, Marília disparou: “O povo de Pernambuco identificou quem é que está do lado de Lula de verdade desde sempre, no bom e no ruim, e quem está do lado de Lula por oportunismo, como é o caso do candidato do PSB. Então isso é muito importante, a gente vê que cada vez mais as pessoas têm consciência, as pessoas acompanham o que está acontecendo na política no dia a dia”.

Críticas ao PSB e apoio de Lula

Ao abrir sua fala no comício, de cima do trio elétrico, ela voltou a falar mal do PSB, no comando do estado há 16 anos, mantendo a estratégia de conquistar votos a partir do desgaste do partido, que concentra parte da sua família e figuras com quem Marília rachou politicamente no passado. Se eleita, além de ser a primeira mulher da história a governar Pernambuco, irá interromper os 16 anos de comando dos socialistas.

O PSB, aliás, não contou com uma segunda visita do ex-presidente e candidato Lula (PT) nesta reta final de campanha, como tinha sido anunciado na primeira e única visita do petista, em julho, ainda durante a pré-campanha, mas confirmou agenda para alavancar seus candidatos no Ceará, Elmano de Freitas (PT), e na Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT). Pernambuco ficou de fora, o que, naturalmente, gerou um mal estar e muitas queixas nos bastidores da campanha socialista. Enquanto isso, o candidato Anderson Ferreira (PL) contou, esta semana, com a quinta visita do presidente Jair Bolsonaro (PL) desde a pré-campanha e até embarcou com ele para Brasília em seguida.

Foto de uma multudão de pessoas segurando bandeiras da candidata Marília Arraes que aparece no canto esquerdo usando camisa vermelha, de cabelos lisos e soltos, falando ao microfone.

Marília Arraes (SD) em último comício antes do primeiro turno ao lado de integrantes da Coligação Pernambuco na Veia. Crédito: PH Reinaux

Alfinetando os socialistas e exaltando Pernambuco, Marília falou: “(…) Pernambuco, de um povo irredento que, sob o jugo do PSB, que hoje é fantasiado de vermelho, mas que, na verdade, carrega toda a velha política do ódio, da raiva, da perseguição que a gente pensou que tinha deixado de existir”. Novamente a candidata do Solidariedade, acusada de esconder o vermelho na campanha de 2020, se colocou como a responsável por unir um Estado dividido e justificou: “por isso que fui buscar Sebastião, por isso que fui buscar André”.

“Quem nunca desiste nunca é derrotado”, discursou, ao relembrar sua trajetória.Em sua fala, André de Paula reforçou a narrativa: “Em 2020, na disputa à Prefeitura do Recife, ela foi atacada das formas mais baixas e cruéis. Mas nada disso a abalou. Marília, mais uma vez, seguiu os passos de Miguel Arraes. Uniu as pessoas e, na sequência, uniu muita gente da política. Marília fez aqui o que Lula fez no plano nacional. Uniu os divergentes para combater os antagônicos”.

Marília tem sido criticada pelos opositores por estar hoje ao lado de figuras políticas que votaram a favor das reformas trabalhista e previdenciária, além de ter solicitado verba do orçamento secreto e não ter ido contra pautas bolsonaristas e do Centrão, como flexibilização de armas e “fura-fila” da vacina, em votações na Câmara Federal. Também tem sido alvo das narrativas construídas pelos oponentes de que não foi aos debates para esconder seu palanque bolsonarista e do ex-presidente Michel Temer (MDB).

Ela, que acumula desavenças e três mudanças de partido, se posicionou, no comício, como a responsável por transformar Pernambuco ao lado de Lula, colocando para o público que soube se reinventar e é a candidata da paz e do amor – “com a máquina mais importante que existe, que é a máquina do nosso coração e das nossas cabeças, os nossos braços, nossa força”. E disse que também é a candidatura das próximas gerações, “diferente do que pensaram eles, que podiam ficar sustentando e pensando Pernambuco só da próxima eleição”.

Grávida da terceira filha, Marília também falou sobre maternidade, fome e primeira infância: “Eu, quando vi que nós íamos ter a oportunidade de disputar o Governo do Estado, achei que Pernambuco me chamava para ser somente governadora. Mas, quando fui abençoada novamente com minha Maria Madalena, eu notei que, na verdade, era um recado. Que Pernambuco precisava que eu não fosse mãe somente das minhas três meninas, mas que fosse mãe de cada criança, de cada pessoa que precisa em Pernambuco. Que fosse mãe dos quase metade dos pernambucanos que passam fome hoje”.

E seguiu reafirmando: “Meu lado é ao lado de Lula, é o lado de Arraes, é o lado do povo pobre de Pernambuco que está esquecido por Bolsonaro e pelo PSB”. Depois falou de conversas com o petista: “A gente não disputou o presidente Lula, a gente lutou para eleger o presidente Lula e contribuir com essa grande vitória. Porque, para estar do lado do presidente Lula, não precisa de acordo. Tem um único acordo que eu fiz com ele: ‘Presidente, traga de volta o nosso país, traga de volta o crescimento para Pernambuco. Traga de volta o Brasil que a gente vinha construindo depois de tantos séculos’”.

Marília terminou o discurso pedindo votos e que seus eleitores e apoiadores não descansem: “Eleição só se ganha depois de contados os votos”, destacando a eleição para o Senado. “Eleição de Senado não se define por pesquisa, sempre a pesquisa erra, há muitas eleições que isso acontece. Vamos lá divulgar o voto casado quando distribuir o santinho, o voto casado com André de Paula, é muito importante para o nosso projeto”, pediu.

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AUTOR
Foto Raíssa Ebrahim
Raíssa Ebrahim

Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com