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Crédito: Meu Voto será Feminista
Nem toda candidata mulher é feminista. Nem toda mulher eleita vai lutar e votar por uma agenda que realmente beneficie toda as mulheres. Políticas com mandato que não têm uma agenda voltada para a pauta feminista são mais numerosas do que o contrário. E como mudar isso?
Votando nas mulheres feministas. Para fazer a ligação entre eleitores e candidatas que se comprometem com uma pauta não só fiel aos direitos reprodutivos das mulheres, mas também à justiça social, é que surgiu o projeto Meu voto será feminista.
A primeira edição foi há dois anos, nas eleições estaduais e federais. Agora, nas eleições municipais, o projeto oferece um mosaico das candidaturas feministas em todo o Brasil, dividido em estados e com escolha das cidades. Pelo site, dá para conhecer as ideias de dezenas de candidatas.
Como é uma candidata feminista?
A gente entende que há uma diversidade dentro dessa caixa do feminismo. E que a própria ideia do feminismo, pela diversidade e da captura do termo, hoje atende a vários propósitos. Colocamos o “feminista” no nome do projeto para não deixar dúvidas. É um espaço feminista, progressista, de esquerda e que quer, no resumo, a libertação para todas, inclusive para as que não querem ser feministas. Demarcamos esse feminismo como um feminismo que luta necessariamente pelos direitos sexuais e reprodutivos, pelo aborto legal, seguro e gratuito, mas para nós essa liberdade individual não está deslocada, por exemplo, da revogação da reforma trabalhista, da reforma da previdência, de direitos de mulheres que trabalham, que reivindicam esse lugar mundo. Não adianta somente ela poder escolher ter um filho ou não, se ela é explorada no trabalho. É uma conexão com vários elementos que têm a ver com a justiça social. Nosso feminismo quer a liberdade para o corpo das mulheres, mas conectado com o bem viver, com justiça social e uma sociedade menos desigual.Juliana Romão
O Meu voto será feminista é ideia de quatro mulheres: Bia Paes, Carol Vergolino, Daiane Dultra e Juliana Romão. É Juliana quem responde as perguntas destacadas nesta matéria. Na primeira edição, elas próprias custearam o projeto, com a ajuda de uma vaquinha virtual. Desde o ano passado, contam com o apoio financeiro da Fundação Oak. Isso possibilitou a expansão do projeto.
A candidata que entra na plataforma virtual recebe também uma caixa de ferramentas para qualificação da candidatura. Ela tem acesso a instruções de como fazer a comunicação da campanha, articulação, prestação de contas etc. É uma chance da candidatura se organizar. “É um suporte que o partido muitas vezes não dá, porque a prioridade não são essas mulheres”, diz Juliana Romão.
Além do suporte na preparação, há uma rede de aliadas, em que uma mulher ajuda a outra. Na eleição passada foram 406 mulheres e a expectativa é de que agora seja muito mais. “A ideia é fazer missões para conscientizar sobre a importância do voto feminista, como, por exemplo, conversando com familiares e vizinhas. E também que as aliadas se juntem a uma campanha específica e possam dar um suporte, que às vezes é só acompanhar uma candidata que de outra forma iria sozinha para uma agenda”, conta Juliana. O Meu voto será feminista atua também na entressafra de eleições, apoiando os mandatos eleitos.
Qual a importância de se votar em vereadoras e prefeitas feministas nessas eleições de 2020?
A gente talvez nunca tenha tido uma oportunidade como sociedade – dentro de uma desgraça social, sanitária e econômica, como é essa pandemia do coronavírus – de conectar a relação da capacidade gestora e da ideologia política com o resultado da política que as pessoas veem. Talvez tenha ficado mais claro para a sociedade que a consequência do voto é a escolha de uma pessoa que vai gerenciar tudo que diz respeito às nossas vidas. A política é o ordenamento social, urbano, a arquitetura de uma cidade. A política está em tudo. A importância de votar em mulheres feministas não é para uma mudança mágica, mas para um caminho de transformação. Uma mulher sozinha tem dificuldade de atuar, por mais que lance projetos de lei, por mais que tente barrar outros projetos de lei antidemocráticos. Sozinha você não consegue, é um voto único. As mulheres ainda não são vistas como pertencentes a estes lugares de poder. Precisamos de muito mais mulheres. Queremos que elas sejam vistas banalmente no Senado, nas câmaras municipais, nas prefeituras. Mulheres qualificadas que estejam preparadas para lidar com a violência do sistema e preparadas para lutar. Competência e caráter não têm gênero.Juliana Romão
De cara, uma diferença importante em relação às candidaturas feministas de 2018 é a proliferação das candidaturas coletivas. Até agora, só em Pernambuco, estão cadastradas na plataforma seis dessas candidaturas.
Na eleição passada havia apenas duas candidaturas coletivas na plataforma: a Juntas (Psol), em Pernambuco, e a Bancada Ativista (Psol), em São Paulo. Ambas foram eleitas. “É um modelo que foi percebido pelas mulheres como uma possibilidade para entrar no sistema”, diz Juliana Romão.
A plataforma não veda a participação de candidaturas mistas, com homens e mulheres. Mas há regras e o protagonismo é da mulher: as candidaturas devem ser no mínimo paritárias e, mesmo que sejam majoritariamente de mulheres, não pode ser um homem a ter o registro da candidatura no sistema eleitoral, que só permite um CPF.
Outra tendência neste ano é o aumento de candidaturas de mulheres negras e de estreantes em eleições. “Já era uma característica do mosaico de 2018, mas a diversidade agora está mais visível”, diz.
A primeira leva de candidatas do site foi recolhida por meio de indicação dos diretórios de partidos de esquerda e de movimentos sociais. Mas é uma plataforma aberta para todas que se identifiquem. Se você é candidata e quer ver seu nome e suas propostas por lá, você deve se inscrever no site e preencher um formulário com informações sobre a candidatura e enviar uma foto. O site é atualizado todas as quintas-feiras.
Um passo importante é concordar com a carta de compromisso do projeto. Entre os principais pontos estão lutar pela descriminalização e legalização do aborto; defender legislações que lutem pelo fim da violência contra a mulher; lutar pela revogação das reformas trabalhista da Previdência, devido ao já conhecido impacto direto na vida social, econômica e política das mulheres; e defender a legalização das drogas, uma vez que a política de drogas proibicionista é a causa do alto crescimento do número de mulheres presas; entre muitos. Confira aqui a íntegra da carta.
Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Contato: carolsantos@marcozero.org