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Sem abastecimento, moradores de Sítio dos Nunes precisam escolher: pagar a fatura da Compesa ou comprar água para os seus reservatórios

Géssica Amorim / 24/11/2023

Crédito: Géssica Amorim/Coletivo Acauã

por Géssica Amorim

Crédito: Coletivo Acauã

O calendário da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) mostra que o distrito de Sítio dos Nunes, no município de Flores (Sertão do Pajeú), deve terminar  novembro com apenas seis dias de abastecimento durante todo o mês.  Desde setembro, a população tem atravessado semanas inteiras sem água nas torneiras. 

Os moradores denunciam que, quando a água chega, é com pouca força e por um período que não é suficiente para abastecer totalmente os seus reservatórios. “Não são nem 12 horas com água. Quando chega, logo falta de novo. E é muito fraca, não sobe pra caixa d’água. A gente consegue encher só uns baldes, não dá nem pra garantir tranquilidade nos dias sem abastecimento. A gente acaba tendo que comprar, mesmo”, conta Samara Alcântara, de 26 anos, maquiadora e moradora da rua Joaquim Nunes Duarte. 

Além de pagar pelos serviços da Compesa – mesmo sem abastecimento regular -, alguns moradores têm desembolsado R$ 40 por um tambor com capacidade de mil litros. Essa água é destinada ao uso nas atividades domésticas e higiene pessoal. Para cozinhar e beber, é preciso comprar galões de 20 litros, que custam, em média, R$ 9,50 no comércio do distrito. 

Essas compras não podem ser realizadas por Roberta Santos, vizinha de Samara,  que, desempregada e mãe solo de seis filhos, vive com o que recebe do programa Bolsa Família – um valor que não chega a um salário mínimo. Recentemente, por falta de pagamento, a Compesa suspendeu o abastecimento da sua residência. 

Há quase dois meses passando por um rodízio de distribuição que tem resultado em menos de um dia com água nas torneiras e algumas ruas do distrito sem abastecimento, Roberta precisou escolher entre pagar a conta de água ou pagar para abastecer os seus reservatórios.  “Sem água, a gente tem passado muito aperto. A minha caixa d’água só tem 500 litros e já está seca. Com essa falta, assim, há mais de mês, acabei atrasando duas faturas e cortaram a minha água. Agora, além de pagar as contas atrasadas pra religarem, preciso arrumar dinheiro pra continuar a comprar dos caminhões que passam vendendo por aqui. E com esse tanto de criança, tem sido difícil demais pra dar banho, fazer comida e lavar roupa. O jeito é se virar pedindo uns baldes aos vizinhos ou procurar por água em algum lugar pela redondeza ”. 

A auxiliar de serviços gerais Simone Goes conta que a rua onde mora, a rua Domitilia Nunes de Lima, não é abastecida há mais de 10 dias. “Na minha rua, não chega água há 11 dias, já. Aqui, a gente também precisou comprar água, não teve jeito. Em casa, nós somos três. Comprando um tambor de 250 litros pra lavar roupa, tomar banho e cuidar da casa, a gente consegue passar poucos dias”. 

Sítio dos Nunes está localizado no final da rede de abastecimento da adutora de Vila de Fátima, outro distrito do município de Flores, localizado a 23 quilômetros de distância. Em nota, a Compesa justifica a falta de água e a falha no abastecimento de algumas ruas do distrito argumentando que Sítio tem uma topografia muito acidentada, irregular, que dificulta o seu abastecimento e faz com que a parte baixa receba água primeiro e por mais tempo, para só depois conseguir pressurizar a rede e abastecer as partes mais altas. 

Para resolver o problema da falta de água em Sítio dos Nunes, a empresa informou que tem um plano para arrendar dois poços perfurados numa propriedade particular do próprio distrito, tratando e transportando a água para os moradores por meio de 600 metros de uma adutora que será implantada depois da aquisição dos equipamentos necessários para que os poços comecem a operar. Segundo a companhia, a expectativa é de que, num prazo de 60 dias, todas essas ações estejam finalizadas. 

A Compesa ainda não deu início às ações do plano que apresentou como solução para o problema de abastecimento em Sítio dos Nunes. Até o início e conclusão dessas operações, os moradores do distrito seguem sem alternativas para lidar e conviver com a falta de água.

 A companhia também foi questionada a respeito da possibilidade de contratação de caminhões pipa, em caráter de urgência, para atender à população durante esse período, mas, até o fechamento deste texto, não recebemos nenhuma resposta.