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Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo
Com ativistas de esquerda e fundamentalistas religiosos trocando insultos, empurrões e algumas tapas no estacionamento da Câmara Municipal, vereadores e vereadoras do Recife apressaram a votação e decidiram não conceder a medalha de mérito Olegária Mariano para Michelle Bolsonaro. Por 16 votos a 9, a honraria foi rejeitada. Seriam necessários 24 votos favoráveis. Foi uma derrota dupla: na véspera, a proposta para homenagear o presidente Jair Bolsonaro havia sido retirada pelo seu autor, o vereador Dilson Batista (Avante), que cedeu à pressão do seu partido, que faz parte da coligação que apoia a pré-candidata a governador Marília Arraes.
Foi a sessão da plenária mais concorrida da Câmara Municipal dessa legislatura. As galerias lotaram com militantes convocados pelos vereadores, mas, outras dezenas de ativistas progressistas e fundamentalistas evangélicos ficaram do lado de fora, o que aumentou a tensão que cercou a sede do legislativo municipal. Durante o debate no plenário, a bancada de extrema-direita apelou para o corporativismo dos vereadores e para uma leitura distorcida do feminismo na tentativa de convencer seus colegas.
A vereadora Michelle Collins (PP), responsável pela proposta, recorreu a argumentos como o “cavalheirismo” dos vereadores e a tradição de se aprovar todas as propostas de medalhas apresentadas pelos demais. Dilson Batista afirmou que votaria a favor “apenas pela primeira-dama ser mulher”, mas, em seu primeiro discurso, cometeu um ato falho e disse que não teria sentido votar contra uma homenagem à Michelle “só por ela ser casada com quem não presta”.
Ao final da votação, a evangélica Michelle Collins estava inconformada e culpou o PSB pela rejeição à sua proposta. “O que houve aqui hoje foi uma voz de comando do PSB, junto com o PSOL, articulando contra, usando todo seu peso e poder para arrastar a bancada no voto contrário”, queixou-se a autora do projeto derrotado.
Três vereadoras de três partidos diferentes – Cida Pedrosa (PCdoB), Dani Portela (PSOL) e Liana Cirne (PT) se revezaram na tarefa de desconstruir a proposta com a ajuda de três homens, Ivan Moraes (PSOL), Osmar Ricardo (PT) e Rinaldo Júnior (PSB). Usando dados oficiais, as parlamentares mencionaram os altos custos do programa Pátria Voluntária, coordenado pela primeira-dama, destacando que o Governo Federal gastou mais dinheiro com a publicidade do projeto do que com as ações concretas.
Irônico, Rinaldo Júnior frisou que, durante a pandemia, o MST distribuiu no Recife mais refeições para a população de rua do que o Pátria Voluntária no Brasil todo. Rinaldo irritou Michelle Collins ao atacar a homenagem a Michelle Bolsonaro com trechos da justificativa usada pela evangélica, autora do projeto que levou a Câmara a criar a medalha Olegária Mariano em 2009. “Olegária Mariano foi uma abolicionista, uma libertária, uma mulher que transformou sua casa num quilombo para ajudar negros a escaparem da escravidão”.
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Jornalista e escritor. É o diretor de Conteúdo da MZ.