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Bairro de Olinda onde jovem morreu soterrado tem promessa de “solução” atrasada pela prefeitura

Raíssa Ebrahim / 07/02/2023

crédito: Prefeitura de Olinda

Em setembro do ano passado, a Prefeitura de Olinda anunciou, em coletiva de imprensa, uma série de ações para obras de infraestrutura na cidade, fruto de convênios com o Governo de Pernambuco. Uma dessas ações, que, segundo o prefeito Professor Lupércio (Solidariedade), já teria dinheiro em conta, seria a implantação de geomantas, uma tecnologia de impermeabilização definitiva do solo para proteger áreas de morros e encostas. Cinco bairros seriam contemplados pelo investimento de aproximadamente R$ 13 milhões.

Cinco meses depois, porém, nada foi feito. Uma das vias incluídas no pacote que ainda não saiu do papel é justamente a rua 6 de Janeiro, em Águas Compridas, onde o jovem Israel Campelo dos Santos, de 19 anos, morreu soterrado por uma barreira na manhã da segunda-feira (6).

A morte do motoboy que trabalhava entregando água e açaí foi a primeira de 2023 em decorrência da falta de políticas públicas efetivas para evitar tragédias e mortes durante as chuvas. Outras quatro pessoas da área ficaram feridas, incluindo a mãe de Israel, Judite Soares dos Santos, de 51 anos, o irmão dele de 12 anos e o sobrinho de 4 anos. Em 2022, 132 pessoas morreram durante os temporais que atingiram o Recife e a Região Metropolitana, entre maio e junho. Menos de um ano depois, o sentimento de milhares de famílias segue de medo e desesperança sempre que chove forte.

“Não tenham dúvidas que isso vai dar uma segurança muito grande para a cidade de Olinda. É importante dizer que o dinheiro já está em conta e vamos começar a executar a obra”, foi o que disse Lupércio durante o anúncio de setembro do ano passado. Além de Águas Compridas, também estão na lista para receberem os investimentos os bairros de Jardim Fragoso, Alto Nova Olinda, Caixa D’ água e Córrego do Abacaxi.

Foi no Córrego do Abacaxi onde foram registradas, em maio do ano passado, as duas primeiras vítimas fatais com as chuvas que atingiram o Grande Recife. O casal Rosemary Oliveira da Silva, 44 anos, e seu companheiro, Sérgio Pimentel dos Santos, 56 anos, também foram mortos pelo desabamento de uma barreira.

Segundo a Prefeitura de Olinda, em resposta à Marco Zero, a tecnologia de geomanta será aplicada em 94 localidades. O trabalho inclui cinco pontos da Rua Seis de Janeiro, onde foi registrado o deslizamento de segunda (6). O processo de licitação, diz a gestão, “está seguindo o rito dos prazos legais, com obras previstas para início já no próximo mês de março”. No entanto, a equipe da MZ conferiu a página de licitações da prefeitura e constatou que a única concorrência para obras em encostas nos morros só será realizada no próximo dia 15 de fevereiro, o que torna impossível início dos serviços em março.

A Secretaria Executiva de Defesa Civil da cidade informou que a precipitação de chuvas prevista para todo o mês de fevereiro era de 81,3 milímetros. No entanto, apenas na segunda (6), foi registrado um índice superior a 134 milímetros. Os bairros mais atingidos foram, respectivamente, Peixinhos, Ouro Preto e Jardim Brasil. A Defesa Civil do município repassou também que está com equipes nas ruas, totalizando mais de 100 profissionais.

O trabalho inclui a inspeção e monitoramento das áreas de morro, com a execução do trabalho de poda das vegetações que apresentem risco, a colocação de lonas e limpeza das barreiras, de acordo com a nota. A área onde ocorreu o deslizamento que matou Israel foi interditada, assim como outras duas casas no mesmo local. As famílias atingidas, disse a Prefeitura de Olinda, receberam assistência nas primeiras horas da segunda (6) e foram direcionados para casa de parentes e as famílias atingidas serão cadastradas na Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, “para a inserção nos benefícios correspondentes”. A gestão, no entanto, não informou que benefícios são esses.

A prefeitura repassou ainda que, a partir desta terça (7), após o trabalho de remoção e desobstrução, executado pela Defesa Civil e demais órgãos envolvidos, os técnicos retornaram à Rua 6 de Janeiro para realizar o cadastro e ofertar abrigamento e orientação às pessoas. A gestão de Lupércio também garantiu que “as medidas de apoio se estenderão por tempo indeterminado, conforme a demanda e necessidade da população”.

Para 2023, segundo a Lei Orçamentária Geral de Olinda (Lei 6275/2022), há aproximadamente R$ 19 milhões previstos para todo um conjunto de serviços do plano municipal de enfrentamento, contenção, requalificação aos desafios de infraestrutura urbana em áreas de risco, além da execução de ações de tratamento das encostas, serviços de escadaria e microdrenagem, elaboração de estudos, planos e projetos para a redução de risco em áreas de assentamento. Esse valor inclui os R$ 13 milhões do convênio com o Governo do Estado para as geomantas.

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AUTOR
Foto Raíssa Ebrahim
Raíssa Ebrahim

Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com