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Crédito: Ascom Alepe
O médico obstetra Olímpio Barbosa de Moraes Filho, ex-diretor do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), a maternidade da Encruzilhada, comemorou a vitória no processo contra o padre que o chamou de assassino como uma conquista “para todos os profissionais de saúde que defendem o direito sexual reprodutivo das mulheres pobres, principalmente os profissionais do SUS”. O médico não pôde comentar antes a decisão judicial porque estava em trânsito para participar de um evento acadêmico de sua área no Texas, Estados Unidos.
Para Moraes Filho, “nós que defendemos a ciência, a democracia, a ética, a justiça e a lei, muitas vezes somos atacados por pessoas que fazem exatamente o contrário, divulgando mentiras e calúnias para promover o ódio, utilizando para isso seus lugares de poder, como é, infelizmente nesse caso, a igreja”.
O caso ocorreu em agosto de 2020, quando uma menina de 10 anos foi trazida do Espírito Santo, por determinação da Justiça, para ser submetida a um procedimento de aborto legal no Recife. Tudo deveria ter acontecido em sigilo, mas a ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do governo Bolsonaro, Damares Alves, atuou para tentar impedir o aborto. Extremistas ligados a ela vazaram a informação e não demorou para a maternidade da Encruzilhada ser cercada por políticos evangélicos e fundamentalistas cristãos.
Enquanto o procedimento era realizado, parlamentares bolsonaristas como Clarissa Tércio (PP) e Joel da Harpa (PL) xingavam a equipe médica e até a menina, que havia engravidado após ser constantemente estuprada pelo tio, de “assassina”.
No dia 15 de setembro de 2020, o padre Luiz Carlos Lodi da Cruz, fundador de uma associação que autointitulada “pró-vida” e integrante da Diocede de Anápolis, interior de Goiás, publicou artigo no qual dizia que o crime de assassínio havia sido praticado pelo médico Olímpio de Moraes Filho, que, nas palavras do padre, “mata criancinhas”.
O médico pernambucano processo o padre e, na sexta-feira, o juiz Adriano Mariano de Oliveira, da 23ª Vara Cível do Recife, determinou que o sacerdote deverá pagar R$ 10 mil de indenização por danos morais ao obstetra. O juiz considerou que houve “constrangimento moral, uma vez que o texto dirige à ofensa diretamente ao autor”.
O médico, que é doutor em Ginecologia pela Universidade de Campinas (Unicamp) e professor da Universidade de Pernambuco (UPE), acredita que decisões como essa, “além de mostrar que ninguém está acima da lei, dá segurança para que nós possamos continuar exercendo nosso trabalho”.
Não é de hoje que o clero católico não curte Olímpio de Moraes Filho. Não consta em seu extenso currículo acadêmico, mas o fato é que ele conseguiu rara proeza: foi excomungado duas vezes pela igreja Católica. A primeira foi em 2006, quando a arquidiocese de Recife e Olinda o considerou responsável pela campanha de controle de natalidade no carnaval de Pernambuco naquele ano, que incluía a distribuição de pílulas do dia seguinte para evitar gravidezes indesejáveis.
Dois anos depois, ele foi punido novamente com a excomunhão pelo então arcebispo dom José Cardoso Sobrinho ao realizar o aborto em uma menina de 9 anos, grávida do padrasto estuprador. Em 2020, talvez por considerar inútil a terceira excomunhão de um homem que, hoje, diz ser agnóstico, o atual arcebispo dom Fernando Saburido não deixou passar a ousadia do médico, mas limitou-se a emitir uma nota condenando os profissionais de saúde que realizam o aborto.
O padre Lodi da Cruz, que já foi condenado, sem mais direito a recursos, a pagar pouco menos de R$ 400 mil a uma mulher que foi impedida de abortar por causa de uma ação judicial de autoria do sacerdote goiano. A mulher estava grávida de um feto com uma síndrome que impede a vida fora do útero. Ela deu à luz e a criança morreu duas horas depois.
Durante a pandemia, o padre se tornou famoso na extrema-direita por publicar nos perfis da entidade “pró-vida” que dirige vídeos ridicularizando o uso de máscaras e as medidas de prevenção contra a covid-19.
A Marco Zero tentou fazer o contato com o padre Lodi da Cruz enviando mensagens para o e-mail da comunicação da Diocese de Anápolis, mas não teve resposta.
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Jornalista e escritor. É o diretor de Conteúdo da MZ.