Após recuar da indicação do ex-deputado estadual, ex-vereador do Recife e advogado Wanderson Florêncio (Solidariedade) para a Superintendência do Ibama em Pernambuco, o deputado federal Túlio Gadelha (Rede) emplacou um novo nome para o cargo, desta vez mais técnico e sem carreira na política. Trata-se do ativista socioambiental, cientista e professor universitário Daniel Brandt Galvão, 37 anos, filiado ao partido. Os profissionais do órgão, no entanto, seguem pressionando para que um servidor de carreira do Ibama assuma a função.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rede), acatou a indicação de Galvão – que recebeu cerca de 7 mil votos na eleição de 2022 para deputado estadual, sua única experiência eleitoral. A portaria de nomeação foi publicada nesta sexta-feira, 18 de agosto, no Diário Oficial da União. A expectativa é que ele seja empossado nos próximos dias.

Daniel é cientista da área ambiental, formado em Engenharia de Pesca, doutorando em Oceanografia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), realizando pesquisas científicas na área de mudanças climáticas, interação oceano-atmosfera e análises de riscos marítimos. Também é diretor do Instituto Salve Mar, organização social sem fins lucrativos que atua com defesa, conservação, monitoramento e educação ambiental.

Apesar da grande mudança de perfil, a novidade, assim como a indicação de Wanderson, também não agradou os profissionais de carreira do órgão, que defendem, desde o início, a manutenção da engenheira Lisânia Rocha Pedrosa no cargo que ela ocupa há uma década, passando pelos governos Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro.

Em carta publicada no dia 8 de agosto, a Associação dos Especialistas em Meio Ambiente do Ibama (Aema), citando expressões como “moeda de troca” e “prêmio de consolação”, criticou Túlio novamente, afirmando que ele “ainda não percebeu a importância de um servidor da carreira de especialista em meio ambiente para esta função, desmerecendo os princípios da administração pública”.

“Mais uma vez foi indicado um político não eleito a deputado estadual em Pernambuco no pleito de 2022 para ocupar a Superintendência do Ibama em Pernambuco, o Sr. Daniel Brandt Galvão, que não tem experiência em gestão pública e institucional do meio ambiente”, diz a carta. “A sociedade precisa saber que não querem o Ibama independente de ingerência política, mas submisso à indicação partidária”, manifestou a associação.

A Marco Zero falou com a servidora do Ibama Gilvânia da Hora, servidora há 40 anos, e ela afirmou que a associação mantém o posicionamento do dia 8 e aguarda uma nova reunião com o deputado Túlio.

Em julho, após repercussão negativa junto aos servidores, que consideraram o nome “político demais”, Túlio dialogou com os profissionais e com a ministra e reavaliou a indicação de Wanderson, que, na Alepe, foi presidente da Comissão de Meio Ambiente e Sustentabilidade. A Aema também publicou carta na época falando em “cultura de nomeações e interferências políticas”. Ficou então pactuado que o deputado levaria à Marina uma nova opção, com um perfil diferente.

À reportagem, Túlio contextualizou o novo momento do Ibama após o desmonte do Governo Bolsonaro, reforçou o nome de Daniel como um defensor da política ambiental e enalteceu seu currículo: “Depois de anos sendo escanteado pelo governo anterior, o Ibama está de volta. E ter alguém como Daniel na Superintendência é um passo importante. Ouvimos os servidores e, junto à Ministra Marina, escolhemos um quadro técnico. Daniel é um especialista, tem excelente formação, bastante experiência e tem dado grande contribuição enquanto cientista e ativista. Tenho certeza que, junto aos servidores, fará um trabalho excepcional de reestruturação e valorização do Ibama em Pernambuco”.

Além disso, o parlamentar garantiu, em conversa com a reportagem por telefone, que a nova reunião com os servidores será agendada na próxima semana com o intuito de dialogar e construir junto aos profissionais “esse novo momento de reestruturação do Ibama”.

À MZ, Daniel afirmou que, num primeiro momento, estando no cargo, pretende fazer um diagnóstico junto aos servidores, entender o que precisa ser melhorado a curto, médio e longo prazos dentro do órgão para trabalhar em cima das prioridades e sob um objetivo maior, de fortalecer a instituição. “Isso inclui desde a estrutura física até a estrutura operacional e administrativa, as necessidades dos servidores, entre outros pontos”, detalhou.

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AUTOR

Raíssa Ebrahim

Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com