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Ana Patrícia Alves está disputando um cargo pela primeira vez. Foto: Inês Campelo/ MZ Conteúdo
A agente comunitária Ana Patrícia Alves parece ter caído de paraquedas na campanha para o Governo de Pernambuco. Último nome a ser registrado para a corrida ao cargo no Tribunal Regional Eleitoral, ela se filiou ao Partido da Causa Operária (PCO) também no limiar, em abril passado. Conheceu o PCO navegando pelo YouTube após o golpe de 2016. “Vi uma análise de Rui Costa Pimenta e gostei muito”, lembra.
Depois, foi passar férias em São Paulo e conheceu pessoalmente integrantes do partido. Participou de um “intensivão” de cinco dias em Jundiaí e, ao voltar para Jaboatão dos Guararapes, onde mora há 16 anos, começou a frequentar as reuniões do partido. Inicialmente, seria indicada para a disputa do senado e Alex Rola (sim, esse é o sobrenome de família dele) para o governo. Mas o pessoal do PCO em São Paulo sugeriu a troca, que foi acatada por unanimidade – são cerca de 40 filiados participantes no estado.
Nacionalmente, o Partido da Causa Operária recebeu a cota mínima do Fundo Eleitoral, de R$ 980.691,10 (0,57%). Mesmo sendo a candidata majoritária, as contas de Ana Patrícia no TSE mostram que ela teria recebido R$ 600, o mesmo que os demais candidatos do partido. Também não sabe quanto vai receber ao longo da campanha. A candidatura dela – e de todo mundo do PCO em Pernambuco – foi indeferida por falta de documentação, mas o partido diz que apresentou recurso e aguarda decisão do TRE.
O PCO também está sem sede. O comitê ocupa a área de serviço da casa dela, em Jardim Piedade. Para esta entrevista a Marco Zero, por exemplo, Ana Patrícia veio de ônibus ao lado de uma amiga. Toda movimentação da candidata é feita por transporte coletivo ou de bicicleta. Não tem nenhum assessor. Quem a ajuda na campanha são os amigos e colegas de trabalho. “Não é fácil enfrentar uma candidatura dessas sem nenhuma cobertura. Mas estou levando como levo tudo na minha vida de trabalhadora, na tora”, diz Ana Patrícia.
Não vai mais sair do Grande Recife: a única viagemfoi para Gravatá, no carro de um amigo. Na entrevista abaixo, a candidata do PCO fala sobre a motivação de sua entrada na política, se declara uma fã de Lula e apresenta algumas propostas, mas tudo muito vago. Para ela, só vai se saber o verdadeiro estado do governo estando lá dentro do Palácio das Princesas e ouvindo os funcionários em grandes assembleias. Ana Patrícia sabe que corre por fora da disputa. “É uma candidatura para divulgar o pensamento do partido. Eu já gostava de política antes do PCO, mas sou uma pessoa antes e uma pessoa depois de entrar no partido”, diz.
O projeto Adalgisas, da Marco Zero Conteúdo, entrevistou as três mulheres candidatas ao Governo do Estado.
Confira as propostas delas:
Ana Patrícia Alves (PCO)
Dani Portela (Psol)
Simone Fontana (PSTU)
O PCO que me desculpe, mas sempre declarei meu amor a Lula. Ele é minha inspiração. Ele é um exemplo de força. Com 72 anos preso, encarcerado, sem poder falar com o povo, sem ter tido cometido nenhum crime. Para presidente, vou votar nulo. Ou era Lula ou era nada. O PT ter colocado Haddad como candidato é votar contra Lula, é legalizar o golpe. Como a gente vai dizer que foi golpe se o PT está entrando no jogo? Era para ter retirado a candidatura do PT. Não existe democracia nesse país. Se existisse, Lula estaria livre.
As pessoas não se identificam com os candidatos, aspessoas odeiam a politica e o politico não dá esse retorno.A revolução é no momento mais crítico de um povo. Ainda falta muito mais sofrimento para o brasileiro chegar nesse ponto. Tudo tem um amadurecimento, a roda do mundo não para. Quando a roda do trabalhador começar a girar para as necessidades do povo, não vai ter como travar.
Nãoacredito que existe tanta gente que seja Bolsonaro, acredito que é fake news. Toda sociedade tem seus reacionários, não é só no Brasil. Em países ditos bom, como a Suécia, houve levante de fascistas. Acho que as pessoas com a internet perderam a timidez de mostrar seus pensamentos e saíram do armário. Bolsonaro é muito oba oba, é para a população do outro lado entregar o governo para uma direita mais leve, que vai nos entregar de bandeja para o mercado financeiro. A direita sabe jogar e a esquerda nunca esteve mesmo no poder. Tivemos um tempinho ali com Lula, a gente sonhava que tinha o poder, mas quando eles quiseram, tiraram.
Pernambuco precisa incentivar o turismo, a cultura local. Eu acho que a gente é bastante rico nisso e é muito mal explorado. O turismo é delegado à última prioridade em matéria de desenvolvimento. Não tem nenhum estado no Brasil com tanta riqueza cultural e uma cultura popular tão forte. Então, incentivar o trabalho para a geração de emprego é essencial. É preciso também ter uma linha de microcrédito para quem quer trabalhar em casa, legalizar esse pessoal, usar a máquina do estado para isso. É a única forma direta para um retorno imediato. Orientar e a pessoa já começa logo a trabalhar. Nem todas as mulheres podem sair de casa. E, daqui que faça creche, vai viver como?
Eu estou no escuro. Não sei como são as contas do estado para ver como gastar o dinheiro. Você precisa fazer primeiro uma auditoria do estado em relação às dividas. Dizem um monte de número, mas não se tem uma auditoria cidadã. Os recursos da Copa que até hoje não se sabe para onde foram. Tem um monte de obras paradas, onde está esse dinheiro? Mas para a moradia acho que tem que construir com pessoas próximas ao local para fomentar o desenvolvimento da região. A área de construção civil demanda bastante empregos.
Depois da auditoria cidadã, o segundo passo seria conversar com os prefeitos, reuni-los e fazer um apanhado dos municípios. E tudo tem que ser com a participação da população. Não tem como ser PCO e não ter a participação popular, tem que estar junto com o governo. Não tem um período em que você é eleito e ainda não assumiu? Então, nesse período (transição) a gente iria fazer assembleias, sentar e ouvir os funcionários. Não só os sindicatos, que nem sempre representam a categoria mesmo, mas com todos os funcionários, em assembleias. Não tem como falar em reforma administrativa antes de ouvir os funcionários. Mas seria assim, um governo que não coloque barreira entrepovo.
O sistema de transporte é complicado. O trabalhador não aguenta mais e isso precisa ser colocado para a população. Por que desde que eu nasci são as mesmas empresas no Grande Recife? Então, tem que colocar o povo para discutir. Existe algum mistério aí, porque entra governo e sai governo e são as mesmas empresas. E também tem que legalizar o transporte alternativo, de forma responsável. O povo precisa de emprego. Mas para saber como melhorar o transporte, primeiro tem que estar com o governo na mão. Outra coisa seria aumentar o número de trens e aumentar linhas de metrô.
Tem que ter uma desmilitarização da PM, algo que vem desde a ditadura militar. Tem que capacitar os profissionais que sofrem muito com o alto comando. Tem que aproximar os policiais do povo, com o seu próprio povo, eles ficam são desumanizados. A gente fica com medo da polícia. Não acredito no aumento do efetivo, mas na diminuição da desigualdade. No caso da violência contra a mulher, aabordagem deve ser educação, e o fortalecimento da mulher também. A mulher é delegada ao segundo plano, mas no geral é ela quem sustenta a família.
Acho que tem que interiorizar, levando o que tem no Recife para os municípios do interior. As pessoas no interior também precisam de um escola em tempo integral, profissionalizante. Não vou dizer quantas escolas seriam necessárias, porque você precisa da máquina pública para saber esse número. Você precisa primeiro se inteirar de como está o estado. A população está cansada de políticos que falam números e não cumprem.
Tem que ter um fortalecimento da saúde básica. Tem que ampliar ao máximo, por onde tiver espaço, nas associações de moradores… É precisosaber o valor que é ter um agente comunitário. Somos a referência para alimentar um monte de dados. Nossas informações são valiosas. A prevenção é fundamental na saúde, é geradora de empregos… hoje temos 20 mil agentes comunitários. Precisaria de muito mais. Em um governo do PCO, a gente iria nas UPAs, nos hospitais e ouviria os funcionários e pacientes para saber onde aplicar o dinheiro.
Sou a favor da liberação de todas as drogas, até porque isso diminuiu a violência. Não é um problema de segurança, é de saúde pública, como o aborto também é.
Uma parte da sociedade, que é de extrema direita e não aceita o diferente, tem preconceito. Mas não é só pelo machismo que não aceita, é mais pelo fascismo mesmo. A mesma coisa com as mulheres, não vejo diferente. Tem que aproximar mais a comunidade LGBT, eles se sentem distantes do SUS. Há programas do SUS ligados com agentes comunitários, que precisam ser ampliados.
Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Contato: carolsantos@marcozero.org