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O ano da Marco Zero: mais jornalismo do que nunca

Sérgio Miguel Buarque / 31/12/2020

Foto: Governo do Estado de São Paulo

O título desse texto de prestação de contas anual – “mais jornalismo do que nunca” – é o mesmo do editorial que a Marco Zero publicou ainda em março, assumindo o compromisso de realizar uma cobertura jornalística da pandemia do coronavírus seguindo uma linha editorial cidadã, voltada à defesa da vida, produzindo informação de qualidade, apurada com precisão e vinda de fontes confiáveis. Afinal, a luta era (e ainda é) contra o vírus, mas também contra a desinformação e o sistemático desrespeito aos direitos humanos.

A repetição do título não foi por acaso. Apesar das restrições impostas pelo isolamento social (precisávamos proteger a nós jornalistas, fontes e entrevistados), de termos captado menos recursos e de toda ordem de dificuldade imposta pela pandemia, chegamos ao último dia do ano com a missão cumprida.

Em 2020, publicamos 426 reportagens em nosso site (20% a mais do que em 2019, que já era o nosso recorde). Foram 123 só sobre o coronavírus (sem contar as checagens do Projeto Comprova e os programas do Arrumadinho). Também demos espaço para as eleições municipais com 66 reportagens, sendo 40 só do Adalgisas. Mantivemos, como não poderia deixar de ser, o foco nos temas relacionados aos direitos humanos, com 57 postagens sobre o assunto. Destaque para as reportagens sobre o caso Miguel (13). Matérias abordando o direito à cidade (21) e diversidade (21) também estão entre os temas mais publicados.

A Marco Zero produziu, em 2020, uma reportagem especial contando a história das 848 famílias moravam ou trabalhavam no caminho das obras da Transposição do São Francisco e tiveram suas vidas completamente modificadas. A reportagem À espera da água foi republicada em cinco veículos de mídia independente do país e ainda virou um Lyric vídeo no Canal Reload.

Outro conteúdo que merece destaque em 2020 é o documentário Território Suape, uma produção da Marco Zero com Símio Filmes e Ventana Filmes. O documentário, exibido pela primeira vez na praça 55 da Cohab (Cabo) no dia 31 de janeiro, discuti a desigualdade estrutural que existe no Brasil. Desigualdade que se manifesta especialmente na ocupação do espaço nas cidades. O documentário está disponível no canal do YouTube da Marco Zero.

O maior volume de postagens também levou a um significativo aumento da audiência do site. Comparado com 2019, o crescimento foi de 82% no número de usuários, 72% no número de sessões e 64% nas visualizações de página, passando de 900 mil acessos. Com exceção do Facebook, onde estagnamos na faixa dos 21,4 mil seguidores, crescemos significativamente nas outras redes sociais. No Instagram, passamos de 13.816 seguidores para 20.319 (+47%) e no Twitter subimos de 6.006 para 9.082 (+51%).

As mais lidas do ano:

1) “As milícias bolsonaristas não vão aceitar a derrota e as esquerdas precisam se precaver”, diz historiador – 77.862 exibições de página

2) Médicos com patrocínio político e planos de saúde promovem uso da cloroquina 31.403 exibições de página

3) O risco de contágio pela COVID-19 e a eficácia das máscaras: com e sem fake news20.891 exibições de página

4) Mãe e avó de Miguel contraíram Covid-19 e nem assim foram dispensadas do trabalho. Família pede justiça 18.747 exibições de página

5) Sob pressão e invisibilizados, assistentes sociais garantem direitos a famílias de pacientes com Covid-1918.318 exibições de página

A qualidade da produção jornalística da Marco Zero também foi reconhecida. No dia em que completamos 5 anos de vida, ganhamos o primeiro lugar nas duas categorias em que estava concorrendo no 25º Prêmio Cristina Tavares de Jornalismo. Levamos a categoria Internet com o projeto Suape pelo Avesso e a categoria Séries de Reportagens com a cobertura realizada pela jornalista Raíssa Ebrahim do derramamento de óleo no litoral do Nordeste.

Suape pelo Avesso também foi finalista do 42° Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, na categoria Produção Jornalística em Multimídia. O prêmio é uma referência para o jornalismo brasileiro.

Dez projetos, dezenas de parceiros

Para contar a história da Marco Zero em 2020 é preciso falar de dez projetos de fôlego, interesse público e relevância jornalísticas. Além de todas essas características, os projetos têm mais uma coisa em comum: todos eles nasceram ou se consolidaram graças a parcerias com outras organizações de mídia independente e instituições comprometidas com a qualidade da informação e os direitos humanos.

1) Adalgisas

Por mais de dois meses, o projeto Adalgisas acompanhou as candidaturas das mulheres nas eleições em Pernambuco. Foram 40 reportagens, entrevistas e artigos além de zapcasts com informações importantes para serem compartilhados pelo WhatsApp e uma newsletter com conteúdos exclusivos.

Ao lado do Centro das Mulheres do Cabo e do SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia, produzimos um programa de rádio em parceria com o Fora da Curva, projeto de extensão do Departamento de Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Os programas tiveram as participações de 14 mulheres especialistas em várias áreas, como saúde, mobilidade, educação, política, feminismos, entre outros. Os seis episódios do projeto Adalgisas no Fora da Curva estão disponíveis no YouTube.

2) Arrumadinho

O Arrumadinho começou em 30 de abril. Em 32 episódios, o podcast da Marco Zero feito em parceria com a Eccos Comunicação falou muito sobre a pandemia. Mas não só. A política, que esquentava a medida que as eleições se aproximava, também teve bastante espaço.

Conduzido por Carol Monteiro, Laércio Portela, Inácio França e Luiz Carlos Pinto, nos sete meses em que essa primeira temporada esteve no ar, foram muitas participações especiais com a presença de praticamente toda equipe da Marco Zero. O programa também ouviu especialistas de várias partes do Brasil.

O prato tipicamente nordestino que inspirou o nome do podcast também deu o tom da proposta. Misturar fatos, dados, análises e opiniões para servir um prato feito que dê “sustança” aos ouvintes para entender esses dias difíceis.

3) Território vivo

A Marco Zero Conteúdo selecionou, através de um edital de microbolsas, cinco organizações para produzirem reportagens sobre vivências e direitos em territórios periféricos de Pernambuco. As microbolsas, no valor de 2,5 mil cada uma, foram usadas “para a produção de reportagem multimídia sobre aspectos da vida nos territórios relacionados aos direitos essenciais das comunidades, seja na denúncia de violações desses direitos, seja na organização da sociedade civil para garanti-los”.

O Território vivo nasceu de uma parceria com a Repórteres Sem Fronteiras, no âmbito do Projeto de Apoio ao Jornalismo – PAJOR. Tem entre seus objetivos, estimular a produção de conteúdo jornalístico próprio a partir das periferias e apoiar financeiramente as organizações de comunicação popular.

As organizações selecionadas foram: Fruto de Favela, Cine S.A., Livroteca Brincante do Pina, Ficcionalizar e Crioulas Vídeo. Ao todo, 38 coletivos apresentaram propostas de pauta para o projeto.

4) Reload

Dez organizações jornalísticas nativas digitais se uniram para criar um Canal de informação para o público jovem. O Reload nasce da necessidade de democratizar e descomplicar a notícia e fazer jornalismo em um formato inovador, como os jovens gostam de consumir: vídeos, histórias em quadrinhos, gifs animados, poesia slam, e lyric vídeos – que são reportagens transformadas em vídeo clipe com trilha original -, a partir dos principais conteúdos produzidos pela Marco Zero,((o))eco, Agência Lupa, Agência Pública, Amazônia Real, Congresso em Foco, Énois, Ponte Jornalismo, Projeto #Colabora e Repórter Brasil. A grade de programação é decidida colaborativamente, e o conteúdo final é construído junto com um time de 12 jovens comunicadores de diversas regiões, origens e trajetórias.

5) Projeto Comprova

Oito novas iniciativas dedicadas ao jornalismo se unem aos 28 veículos que integram o Projeto Comprova para trabalhar contra a desinformação. O grupo é formado por coletivos e agências das cinco regiões do país e que estão conectadas a públicos segmentados por territórios, temáticas raciais ou religiosas e a comunidades vulneráveis. A Marco Zero Conteúdo e as outras sete novos integrantes atuarão no Comprova por seis meses, graças a um convênio da Missão Americana no Brasil com a Abraji para combater desinformação relacionada à COVID-19. Além da Marco Zero, passaram a fazer parte do Comprova: Agência Mural de Jornalismo das Periferias, Bereia, Amazônia Real, Coletivo Niara, Alma Preta, Favela em Pauta e Rádio Noroeste.

6) Mapa da violência política no Brasil

A Marco Zero se juntou a Agência Pública e mais sete organizações de jornalismo independente para monitorar e mapear casos de violência e coerção eleitoral que acontecerem antes e depois das eleições municipais. As denúncias foram apuradas por um consórcio de meios independentes e premiados – Agência Pública, Agência Saiba Mais, Amazônia Real, Gênero e Número, Marco Zero, Plural, Ponte Jornalismo, Portal Catarinas e Projeto Colabora. No final, foram produzidas duas grandes reportagens, uma após o primeir turno e outra após o segundo.

7) Um vírus, duas guerras

O projeto Um vírus e duas guerras vai monitorar até o final de 2020 os casos de feminicídios e de violência doméstica no período da pandemia. O objetivo é visibilizar esse fenômeno silencioso, fortalecer a rede de apoio e fomentar o debate sobre a criação ou manutenção de políticas públicas de prevenção à violência de gênero no Brasil. O projeto é resultado de uma parceria colaborativa entre as mídias independentes Amazônia Real, #Colabora, Eco Nordeste, Marco Zero Conteúdo, Portal Catarinas, AzMina e Ponte Jornalismo.

8) MonitorA

O MonitorA é um observatório de violência política contra candidatas nas redes, um projeto da Revista AzMina e do InternetLab, com parceria do Instituto Update. A ferramenta de análise de dados foi desenvolvida pelo Volt Data Lab e os glossários de termos pesquisados foi desenvolvido pela pesquisadora em discurso de ódio Yasmin Curzi. O MonitorA conta ainda com a parceria de veículos locais que produzem reportagens sobre violência política com o recorte de seus territórios. A Marco Zero foi parceira na reportagem: Mulheres negras são o principal alvo da violência política nas redes sociais em eleições na Bahia. Participam do MonitorA ainda o BHAZ (MG), a Agência Mural de Jornalismo das Periferias (SP), a Amazônia Real (PA) e o Portal Catarinas (SC).

9) Festival Fala

Um festival online, que aconteceu nos dias 23, 24 e 25 de outubro, para discutir o futuro do jornalismo a partir do diálogo com a arte, a cultura e as novas linguagens. Assumindo uma produção posicionada em defesa da democracia, dos direitos humanos e da diversidade de vozes, corpos e territórios. Essa foi a proposta do Fala! Festival de Comunicação, Culturas e Jornalismo de Causas. O Fala! foi idealizado e organizado por quatro coletivos de mídia independente: Marco Zero Conteúdo, Alma Preta (SP), 1 Papo Reto (SP) e Ponte Jornalismo (SP). A realização é do Sesc.

10) Obsrvatório do Agreste

Ao longo de 2020, alunos do projeto de extensão Reportagens Especiais do curso de Comunicação Social do campus Caruaru (UFPE) produziram nove reportagens que foram pubicadas no site da Marco Zero. Foram dois especiais, um sobre o Auxílio Emergencial e outro sobre Educação e Internet no Interior. O projeto é uma parceria o Observatório da Vida Agreste (OVA).

Siga o dinheiro

Pela primeira vez desde que a Marco Zero começou, há cinco anos e meio, captamos menos recursos do que o ano anterior. Um pouco por conta da pandemia outro tanto por questões de câmbio, o fato é que nosso orçamento foi 16% menor esse ano. Enquanto em 2019 captamos R$ 790.952, 47, em 2020 nossa receita foi de R$ 663.539,95.

Como sempre, nossa principal fonte de receitas veio do apoio institucional da Fundação OAK, uma organização internacional que tem como missão apoiar questões de interesse global, social e ambiental (R$ 433.207,17). Em segundo lugar, vem a Open Society (R$ 107.647,50), seguida pelo Fundo de Emergência para Jornalismo do Google News Initiative Journalism (R$ 25.782,45) e pelo Instituto Clima e Sociedade (R$ 25.000,00). O balanço detalhado, com todas as receitas e despesas, será publicado no nosso site no início de 2021.

Seja mais que um leitor da Marco Zero…

A Marco Zero acredita que compartilhar informações de qualidade tem o poder de transformar a vida das pessoas. Por isso, produzimos um conteúdo jornalístico de interesse público e comprometido com a defesa dos direitos humanos. Tudo feito de forma independente.

E para manter a nossa independência editorial, não recebemos dinheiro de governos, empresas públicas ou privadas. Por isso, dependemos de você, leitor e leitora, para continuar o nosso trabalho e torná-lo sustentável.

Ao contribuir com a Marco Zero, além de nos ajudar a produzir mais reportagens de qualidade, você estará possibilitando que outras pessoas tenham acesso gratuito ao nosso conteúdo.

Em uma época de tanta desinformação e ataques aos direitos humanos, nunca foi tão importante apoiar o jornalismo independente.

É hora de assinar a Marco Zero

AUTOR
Foto Sérgio Miguel Buarque
Sérgio Miguel Buarque

Sérgio Miguel Buarque é Coordenador Executivo da Marco Zero Conteúdo. Formado em jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco, trabalhou no Diario de Pernambuco entre 1998 e 2014. Começou a carreira como repórter da editoria de Esportes onde, em 2002, passou a ser editor-assistente. Ocupou ainda os cargos de editor-executivo (2007 a 2014) e de editor de Política (2004 a 2007). Em 2011, concluiu o curso Master em Jornalismo Digital pelo Instituto Internacional de Ciências Sociais.