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Organizações feministas declaram apoio crítico a Marília Arraes no segundo turno em Pernambuco

Raíssa Ebrahim / 20/10/2022
em primeiro plano, ocupando toda a porção direita da foto, braço de mulher com pintura em vermelho do símbolo do gênero feminino (círculo com cruz voltada para baixo). Desfocado e em segundo plano, celular que a pessoa está consultando.

crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

Duas das principais organizações de mulheres do estado, o Fórum de Mulheres de Pernambuco e a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, manifestaram apoio crítico à candidatura de Marília Arraes (SD), contra Raquel Lyra (PSDB), neste segundo turno da eleição estadual. O compromisso maior das organizações, segundo a carta de posicionamento político publicada por elas, é eleger Luiz Inácio Lula da Silva (PT) presidente, impondo uma derrota ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao bolsonarismo.

Pernambuco terá, pela primeira vez, uma governadora mulher. Apesar do avanço histórico que é a ampliação dessa participação política, isso não significa que as candidaturas de Marília e Raquel sejam historicamente comprometidas com as causas feministas e antirracistas.

“Nenhuma delas é vinculada a partidos de esquerda, ou seja, não estão no nosso campo político, não defendem as pautas feministas, não são antirracistas e até se esforçam para demonstrar sua posição contrária, como, por exemplo, à legalização do aborto. Suas práticas políticas não colaboram para o enfrentamento às desigualdades raciais e de gênero, muito ao contrário, reforçam as estruturas que mantém a dominação e a opressão sobre as mulheres, especialmente as mulheres negras”, diz um trecho da carta.

Confira a carta na íntegra:

Porém, entendendo a importância de um posicionamento por candidaturas que tenham compromisso e afinamento com Lula em prol do processo democrático e a importância de, neste momento, ampliar a votação de Lula em Pernambuco, o fórum e a rede optaram pelo nome da candidata do Solidariedade.

A montagem dos palanques nas últimas semanas só reforça a análise publicada na ocasião da elaboração da carta, comenta Mônica Oliveira, da Rede de Mulheres Negras.

Ao lado da candidata tucana, estão nomes políticos de setores ultraconservadores e fundamentalistas, como o casal Tércio e o casal Collins. O pastor Júnior Tércio (PP) é vereador do Recife e foi eleito o deputado estadual mais votado do estado. Sua esposa, Clarissa Tércio (PP), é deputada estadual e foi eleita federal com a segunda maior quantidade de votos. Já o pastor Cleiton Collins (PP) exerce o quarto mandato consecutivo na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) e sua esposa, Michele Collins (PP), ocupa uma cadeira na Câmara Municipal.

“São setores contrários a muitas das nossas pautas”, diz Mônica à Marco Zero. “Pautas que, inclusive, significam vida ou morte para as mulheres. Então essa composição do palanque de Raquel apenas comprova e reafirma aquilo que a gente já traz nas nossas análises. Nesse sentido, é fundamental que as mulheres estejam alinhadas, neste segundo turno, com a candidatura que é mais próxima para nós daquilo que nos é fundamental. Da defesa da vida das mulheres, da defesa de políticas públicas efetivas para o enfrentamento à violência, políticas públicas que colaborem com a autonomia econômica das mulheres, que permitam e garantam o acesso a direitos sociais, econômicos e políticos”, complementa.

Mônica Oliveira da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco

Mônica Oliveira da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco. Crédito: Arnaldo Sete/MZ

Entre os temas pelo qual as mulheres seguirão lutando e cobrando depois das eleições, no Executivo e no Legislativo, tanto no plano quanto estadual quanto no nacional, estão:

1. Enfrentamento das desigualdades através da legislação e da fiscalização do Executivo para efetivação das políticas para todas as mulheres com orçamentos que garantam o enfrentamento da pobreza e uma efetivação de direitos na vida cotidiana;

2. Comprometimento com a reconstrução do Estado Democrático de Direito, mudança radical do sistema político e ampliação dos mecanismos de participação popular;

3. Defesa intransigente dos modos de vida das populações tradicionais, da natureza, dos saberes ancestrais e debate de projetos econômicos que beneficiem a maioria do povo, em especial as mulheres, o povo negro e periférico, do campo e da cidade;

4. Queremos que a ampliação da presença de mulheres nos governos e parlamento federal e estadual fortaleça a luta feminista pelo enfrentamento à violência, incluindo a violência política; pela legalização do aborto e por justiça reprodutiva; pelo direito ao trabalho e à renda básica; e por territórios que sejam lugares bons pra se viver, no campo e nas cidades.

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AUTOR
Foto Raíssa Ebrahim
Raíssa Ebrahim

Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com