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Esperançar. Seguimos dias de esperança, apesar dos pesares

Marco Zero Conteúdo / 06/10/2022

Célia Xakriabá (PSOL) é a primeira indígena eleita deputada federal por Minas Gerais. Ela obteve mais de 100 mil votos. Entre suas propostas estão a demarcação dos territórios indígenas e a titulação dos quilombos. Crédito: Divulgação Facebook

Por Bia Pankararu*

Após a ressaca do primeiro turno das eleições, trago alguns pontos dos resultados para refletir sobre o cenário político atual. De cara, por mais que haja uma expressiva eleição para a bancada bolsonarista, é importante lembrar que a esquerda também teve vitórias significativas e ampliou sua representação política. E antes de qualquer narrativa de vitória bolsonarista, é preciso deixar claro que está acontecendo o maior esquema de compra de votos de todos os tempos. Bolsonaro teve ao seu lado e na sua mão um orçamento secreto bilionário para compartilhar com seus apoiadores. Mesmo com a máquina pública ao seu dispor, um show de Fake News e o fantasma do comunismo, Bolsonaro ficou atrás de Lula em 6 milhões de votos válidos.

As pesquisas que apontavam uma possível vitória de Lula ainda no primeiro turno, deixaram um gosto de decepção nos mais de 57 milhões de brasileiros que votaram em Lula, e reforçaram os discursos de boicote e sabotagem aos órgãos de pesquisa entoados pelos militantes de Bolsonaro. A verdade é que, mesmo depois de quatro anos de escândalos após escândalos, Bolsonaro recebeu mais de 51 milhões de votos válidos. Foi a eleição com maior participação popular e mais acirrada entre os candidatos à Presidência da República. Mesmo acirrada, nunca antes um candidato à reeleição ficou atrás do seu adversário e, também, nunca antes o segundo colocado conseguiu virar no segundo turno.

O resultado das eleições mostraram como a democracia no Brasil, apesar dos pesares, segue funcionando. Uma participação expressiva nas urnas, mas ainda é preciso olhar para aquela população que entre pagar a multa ao TSE e os custo de deslocamento, deixa de votar por não ter condições financeiras, por não ter com quem deixar os filhos ou por não se sentir parte importante no processo democrático de escolha política. A militância do PT, por muitas vezes, se mostra mais POP que popular. Com apoio em massa de artistas, encontros nos grandes centros e uma militância festiva de boteco e redes sociais, faltou a militância que atua junto das periferias, comunidades rurais e nos interiores onde a política coronelista tende ao bolsonarismo. São esses espaços onde as igrejas ganham domínio de narrativa e conquistam um verdadeiro rebanho de votos através do domínio pela fé.

Essa semana se iniciou com as campanhas para o segundo turno a todo vapor. Onde esperávamos um aprofundamento de debates e a atenção para os apoios e coligações políticas, uma onda religiosa e cristã tomou conta das redes sociais. Um vídeo sensacionalista alegando que, se Lula fosse eleito, ele entregaria o país ao próprio satanás, mexendo assim com o eleitorado evangélico e dito cristão. Em contrapartida, uma enxurrada de respostas de como Lula garantiu o direito de liberdade religiosa, criando leis e mecanismos para o pleno exercício da fé. O que já parecia uma cruzada entre bons e maus fiéis de Deus, ganhou novo capítulo quando Bolsonaro se tornou o principal assunto dos últimos dias ao circular um vídeo dele em um encontro Maçônico. A maçonaria é atribuída por muitos ao anticristo e teorias satânicas, logo, choveu uma montanha-russa de notícias, memes, sátiras e começamos o segundo turno debatendo quem realmente fez um pacto com o demônio, ou satanás, e como em outros momentos da história, Deus e o Diabo foram envolvidos na política interna de um país, até então, laico.

Por hora, nem Deus e nem o Diabo disseram de que lado estão, mas Simone Tebet e Ciro Gomes já sinalizaram apoiar a candidatura de Lula para o pleito presidencial. Simone Tebet fez um posicionamento caloroso e confiante, afirmando ser uma defensora da democracia e que estaria ao lado do povo e de Lula para a eleição. Ciro Gomes se conteve em dizer que seguia o posicionamento do seu partido, o PDT, e sem citar o nome de Lula em nenhum momento, também disse defender a democracia e que essa seria a única opção possível. Em resumo, o pódio da corrida presidencial se une para derrotar Bolsonaro e eleger Lula.

Em Pernambuco, iremos para o segundo turno com Marília Arraes e Raquel Lyra disputando o Palácio do Campo das Princesas, sede do Governo pernambucano. Um cenário já mostrado como possível pelas últimas pesquisas. Nos resta agora esperar um maior entendimento das campanhas, o que vai levar um tempo e tom diferenciado. A morte súbita do marido de Raquel Lyra, o empresário Fernando Lucena, abala profundamente toda a família, amigos e o decorrer da campanha, tanto que a coligação de Raquel pediu o adiamento do horário eleitoral em virtude do seu luto. Marília, que está grávida, vem pegando leve nas agendas, no entanto, irá iniciar sua campanha em programa eleitoral a partir desta sexta-feira (7).

Teremos, pela primeira vez, o estado governado por uma mulher, de sobrenomes conhecidos e um debate aguardado entre as duas candidatas. Marília e Raquel já protagonizam uma disputa histórica. Enquanto o partido de Marília, o Solidariedade, declara apoio a Lula e a campanha enfatiza isso o tempo inteiro como a campanha de Lula, o PSDB de Raquel deixou seus filiados livres para declarar apoio tanto a Lula quanto a Bolsonaro. A verdade é que políticos de partidos como PL, MDB e o também candidato ao Governo Miguel Coelho, agora abertamente apoiador de Bolsonaro, declara apoio à candidatura de Raquel. Vai se desenhando uma narrativa de que Marília seria a candidata de Lula e Raquel de Bolsonaro, apesar de Raquel, nem sua campanha, ter se manifestado sobre o assunto. Fortes emoções nos esperam nos próximos 20 e poucos dias.

Preciso trazer a importância que foi a eleição de pessoas como Rosa Amorim e Dani Portela para a Alepe. A vitória de Sônia Guajajara e Célia Xakriabá na Câmara Federal como guardiãs das pautas climáticas. A eleição de Érika Hilton e Duda Salabert, primeiras mulheres trans na Câmara em Brasília. O MST elegeu dois deputados federais e quatro estaduais. Sigo acreditando que temos mais motivos para seguirmos confiantes de estarmos do lado certo da história e dia 30 não será definitivo. Ainda teremos muita luta pela frente. Independente do presidente que for eleito, teremos ainda um Congresso e um Senado ainda mais conservadores, fundamentalistas e dispostos a entregar o Brasil à barbárie, mas também teremos novas forças, energias e disposição para resistir e transformar a realidade da nossa gente. E a esperança, meus amigos, nunca há de acabar.

*Bia Pankararu tem 28 anos, é mulher indígena, sertaneja, mãe de Otto, LGBT+, técnica em enfermagem e produtora cultural e audiovisual. Ativista pelos direitos humanos e ambientais. Comunicadora da rede @povopankararu.

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