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crédito: Tiago Calazans
O cenário atípico que está sendo desenhado para o segundo turno das eleições em Pernambuco tem levado muitos nomes a deixarem desavenças antigas de lado. Para fortalecer a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), desafetos políticos e familiares do PT e do PSB voltaram a dialogar e se aliar a Marília Arraes (Solidariedade) contra Raquel Lyra (PSDB) na disputa pelo Governo do Estado. A candidata também está sendo apoiada pelos partidos de esquerda e progressistas PCdoB, PDT, PSOL e PCB, estes dois últimos defendendo o “voto crítico”. O objetivo é conseguir barrar a reeleição de Jair Bolsonaro (PL) na corrida presidencial mais desafiadora do país desde a redemocratização. Marília é ex-socialista e ex-petista e agora conta com o apoio dos dois partidos.
O ano era 2014, o Brasil estava em campanha eleitoral. A neta de Miguel Arraes era vereadora do Recife pelo PSB e rompeu com o primo, o então governador e candidato à presidência, Eduardo Campos (PSB), morto em um acidente aéreo em agosto daquele ano. Crítica aos caminhos que o partido vinha tomando e às alianças feitas, especialmente com o PSDB, ela avaliou, na época, como “insuportável” sua permanência na legenda, que alfinetou ser um “simulacro de Partido Socialista Brasileiro”.
Naquele momento, a parlamentar apoiou o adversário de Paulo Câmara, Armando Monteiro (hoje PSDB, na época PTB) na disputa estadual. Na corrida nacional, Marília ficou ao lado de Dilma Rousseff (PT), enquanto João Campos (PSB), atual prefeito do Recife, e a sua mãe, Renata Campos, apoiaram a candidatura de Aécio Neves (PSDB) no segundo turno, após a derrota de Marina Silva (Rede), vice de Eduardo, que assumiu a cabeça de chapa após a morte do pernambucano.
A desfiliação oficial do PSB aconteceu em 2016, com uma carta aberta nas redes sociais. Foi quando Marília se filiou ao PT, abonada pelo ex-presidente Lula. Mas, em 2018, sua candidatura ao governo, forjada com apoio do atual deputado federal Carlos Veras (PT), foi descartada para garantir que o PSB ficasse neutro na disputa presidencial, longe do apoio a Ciro Gomes (PDT). Em 2020, ela disputou a prefeitura da capital contra o primo João, que saiu vitorioso no segundo turno.
Em março deste ano, Marília deixou o PT alegando “questões locais”. Num movimento encabeçado localmente pelo senador Humberto Costa (PT), mas que seguiu os acordos costurados nacionalmente e que exigiram contrapartidas, a legenda abriu mão da candidatura própria ao Governo de Pernambuco para apoiar o deputado federal Danilo Cabral (PSB), candidato oficial de Lula e que ficou em quarto lugar no último dia 2 de outubro.
Foi quando Marília se filiou ao Solidariedade, partido de Paulinho da Força que se define como de centro-direita. Ela se candidatou ao governo estadual na Coligação Pernambuco na Veia, tendo Sebastião Oliveira (Avante) como seu vice e o deputado federal André de Paula (PSD) como candidato ao Senado, que não se elegeu. A vitória ficou com Teresa Leitão (PT), primeira mulher senadora de Pernambuco.
Agora, num segundo turno apertado entre Marília e Raquel – com 23,97% e 20,58% das urnas no primeiro turno, respectivamente –, Lula trabalhou para reconciliar a candidata do Solidariedade com o PT e o PSB. Após o aval de Lula, o Partido dos Trabalhadores oficializou o apoio à Marília na última sexta-feira (7) com coletiva de imprensa.
Já o PSB – que Marília alfinetou bastante como estratégia de conquista de votos a partir do desgaste gerado pelos 16 anos do partido no poder – foi mais discreto, com a publicação de uma nota de posicionamento no segundo turno assinada pelo presidente estadual, Sileno Guedes, que não cita o nome da candidata.
“Apesar de todos os esforços, não foi possível a vitória nas urnas do candidato do PSB. Sabendo respeitar a decisão popular – e entendendo a alternância de poder manifestada pelos pernambucanos como um fator natural do processo democrático –, o partido informa que seguirá na defesa incondicional da chapa Lula-Alckmin, que expressa a aliança do PT e PSB na defesa da democracia e da Constituição. Nesse sentido, em Pernambuco, defendemos e indicamos, no segundo turno das eleições para o Governo do Estado, a candidatura que for apoiada pelo presidente Lula e que simbolize esses valores”, diz o final do texto.
Enquanto lideranças da família Campos mantêm o silêncio, nomes da base do PSB já demonstraram apoio explícito à Marília. Ela recebeu, nesta segunda (10), o apoio do deputado estadual Eriberto Medeiros (PSB), presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Outros socialistas também divulgaram apoio nos últimos dias, como os deputados estaduais Francismar Pontes, Aglailson Victor, Diogo Moraes, Simone Santana, os vereadores do Recife Alcides Teixeira Neto, Felipe Francismar (ex-marido de Marília) e Marco Aurélio Filho, além do prefeito de Salgueiro, Marcones Sá.
“A gente recebe Marília de braços abertos aqui no Partidos dos Trabalhadores para externar esse apoio”, disse Humberto Costa (PT) na coletiva de sexta (7). “O partido que hoje está manifestando apoio a você pela sua candidatura é um partido que pretende agregar esse capital político à sua campanha e à sua vitória. E mais do que isso, tivemos também o posicionamento do presidente Lula, que, questionado por nós sobre que orientação ele daria, ele disse que o melhor caminho era nós estarmos com Marília Arraes neste segundo turno. E é assim que as coisas vão efetivamente acontecer”, complementou o senador falando em união.
Como estratégia de campanha, Marília tem enfatizado nas redes e nas ruas o “Lula lá, Marília cá”. Chegou a dizer, no primeiro turno, que “para estar do lado de Lula, não precisa de acordo”, enquanto se posicionava como a responsável por unir um Estado dividido, assim como Lula fez nacionalmente.
Agora, com Danilo Cabral fora da disputa, ela tem o apoio oficial do ex-presidente, que virá ao Recife nesta sexta (14) para caminhada no Centro. Será a segunda vez que ele vem ao Estado. A primeira foi para oficializar Danilo como seu candidato. Havia expectativa de que Lula retornasse a Pernambuco ao final da corrida do primeiro turno, o que não aconteceu, gerando um descontentamento interno no PSB.
“Ou a gente se une, une Pernambuco, une quem está em defesa do nosso país e do nosso estado e isola a intolerância, o ódio e o fascismo ou nossa situação pode vir a ficar cada vez pior”, disse Marília na coletiva do PT, enfatizando o avanço do fascismo e do bolsonarismo nestas eleições em Pernambuco e agradecendo “à nova configuração do segundo turno”. Ela citou a “eleição atípica” no Estado e avaliou o cenário como uma “reaglutinação das forças democráticas”.
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Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com