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Rosa Amorim leva MST à Alepe em eleição que tem bolsonaristas líderes de votos

Laércio Portela / 03/10/2022
Foto com Rosa ao centro, uma mulher negra e jovem, com o braço direito levantado, usando camisa vermelha do MST e cabelos cacheados presos. Ambiente noturno. Ao fundo, em segundo plano, uma bandeira amarela com o rosto de Marielle e a frase Justiça por Marielle.

Rosa Amorim é a primeira representante do MST a ocupar uma cadeira de deputada estadual em Pernambuco. Crédito: Rosa Amorim/Divulgação

O MST vai ocupar a Assembleia Legislativa de Pernambuco. Pela primeira vez na história, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra conquistou uma cadeira no legislativo estadual com a eleição, neste 2 de outubro, de Rosa Amorim (PT), 25 anos, natural de Caruaru e filha de assentados. Ela obteve 42.682 votos.

Estudante de teatro, militante do Levante Popular da Juventude e coordenadora do Armazém do Campo, no Recife, Rosa levará para a Alepe a urgência do combate à fome, associada às pautas da desapropriação de terras para fins de reforma agrária, incentivo às cooperativas rurais e à produção de alimentos orgânicos, tecnologias já desenvolvidas pelo MST.

A eleição de de Rosa Amorim em Pernambuco não é um fato isolado, mas faz parte de uma estratégia nacional do MST. O movimento lançou 15 candidaturas a deputado estadual e federal em 12 estados e conseguiu eleger seis, todos pelo PT. Além de Pernambuco, obteve vitórias no Ceará (1 estadual), Bahia (1 federal), Rio de Janeiro (1 estadual) e Rio Grande do Sul (1 federal e 1 estadual).

Uma outra candidata do campo progressista chega com força à Alepe. Postulante do PSOL ao Governo de Pernambuco, em 2018, e recordista de votos na eleição para a Câmara de Vereadores do Recife, em 2020, Dani Portela agora é deputada estadual eleita com 38.215 votos, confirmando sua ascensão política. A eleição de Dani abre vaga na Câmara do Recife para o mandato coletivo das Pretas Juntas, do PSOL, com Elaine Cristina e Débora Aguiar, que estavam na primeira suplência. Este ano, Elaine (PSOL) tentou vaga na Alepe e Débora (Rede) na Câmara dos Deputados.

O PSOL seguirá na próxima legislatura com apenas uma representação na Alepe, já que a mandata coletiva das Juntas não conseguiu a reeleição, reduzindo o patamar dos 39.175 votos, em 2018, para 15.410 em 2022.

Apesar do espaço ocupado por Rosa e Dani, um ponto negativo dessa eleição é a redução da participação das mulheres na Assembleia, que cai de dez deputadas para apenas seis, num dos anos em que entidades de mulheres mais se articularam no estado para apoiar candidaturas de mulheres feministas e antirracistas e, especialmente, de mulheres negras.

Foram reeleitas na Alepe, a delegada Gleide Angelo (PSB) e a médica Simone Santana (PSB). Além de Dani e Rosa, chega à Assembleia Débora Almeida (PSDB), ex-prefeita de São Bento do Una. A médica Socorro Pimentel (União Brasil), deputada na legislatura 2015-2018, retorna à Casa.

Algumas das deputadas estaduais da atual legislatura deixaram a Alepe para concorrer a outros cargos. É o caso de Priscila Krause (Cidadania), candidata a vice-governadora na chapa de Raquel Lyra (PSDB) que passou para o segundo-turno; de Teresa Leitão (PT), eleita senadora na chapa de Danilo Cabral (PSB) depois de cinco mandatos como deputada estadual; e de Clarissa Tércio (PP), eleita deputada federal. Fabíola Cabral (PP) e Dulcicleide Amorim (PT) também tentaram vagas na Câmara dos Deputados, mas não obtiveram sucesso. A deputada Alessandra Vieira (União Brasil) não concorreu à reeleição, compondo a chapa de Miguel Coelho (União Brasil) na vaga de vice-governadora.

Voto conservador

Dois candidatos ultraconservadores e símbolos do bolsonarismo em Pernambuco foram os campeões de votos para a Assembleia na eleição de 2022. O até então vereador do Recife Pastor Júnior Tércio (PP), da Assembleia de Deus, foi o mais votado, totalizando 183.733 votos, e o reeleito coronel Alberto Feitosa (PL), com 146.842 votos. Júnior é marido da deputada estadual, agora eleita federal, Clarissa Tércio (PP).

Negacionistas, Clarissa e Júnior Tércio se posicionaram durante a pandemia em defesa do uso da cloroquina para o que chamavam de tratamento precoce da Covid-19, mesmo sem qualquer comprovação científica. Também têm se colocado como os maiores opositores ao direito ao aborto, incluindo casos previstos em lei. Fizeram toda sua campanha explorando o mote do bem (a direita) contra o mal (a esquerda).

Júnior Tércio e Clarissa Tércio com Bolsonaro. Coronel Alberto Feitosa acompanhando o presidente em agenda em Pernambuco. Crédito: Divulgação Facebook

No campo da esquerda, o mais bem votado foi o ex-prefeito do Recife e agora deputado reeleito João Paulo (PT), com 74.441 votos.

Ao todo, 25 dos 36 deputados estaduais que tentaram a reeleição permanecerão na Alepe a partir de 2023. Mesmo número de reeleitos em 2018. Outros 24, do total geral de 49 vagas, vão estrear no Legislativo estadual ou, ao menos, não pertencem à Casa na atual legislatura.

Entre as novidades estão Jarbas Filho (PSB), filho do senador e ex-governador Jarbas Vasconcelos (MDB); e France Hacker (PSB), duas vezes prefeito de Sirinhaém e irmão da prefeita de Rio Formoso, Isabel Hacker (PSB), mãe de Sérgio Hacker, esposo da Sari Corte Real, condenada pela morte do menino Miguel.

A tradição familiar continua a pesar na Assembleia com as vagas passando de pai pra filho. É o caso de Eriberto Filho (PSB), que herdou os votos do pai Eriberto Medeiros (PSB), eleito agora deputado federal. Ele e Jarbas Filho vêm se somar à extensa bancada dos herdeiros reeleitos, entre eles Antônio Coelho, do União Brasil, (filho do senador Fernando Bezerra Coelho), Aglaílson Victor, do PSB, (filho do ex-deputado Aglaílson Júnior) e Henrique Queiroz Filho, do PP, (filho do ex-deputado Henrique Queiroz), entre tantos outros.

Também foi reeleito o deputado Romero Albuquerque (União Brasil), com 46.344 votos. Ele se notabilizou por gastar mais de 472 mil reais em posts impulsionados no Facebook para promover sua candidatura à reeleição e a da mulher Andreza Romero (Podemos), vereadora do Recife, para deputada federal (não eleita) como “protetores de animais”. No sábado, 1 de outubro, mensagem que fere a lei eleitoral foi disparada para eleitores pedindo votos para o casal.

São quatro os deputados estaduais que estão trocando a Assembleia pela Câmara dos Deputados, em Brasília: Eriberto Medeiros (PSB), Clodoaldo Magalhães (PV), Lucas Ramos (PSB) e Guilherme Uchôa Júnior (PSB). Não por acaso, todos pertencentes a famílias de políticos profissionais. Os três últimos, inclusive, filhos de ex-deputados estaduais.

Apesar do fracasso da candidatura de Danilo Cabral (PSB) neste primeiro-turno, que acaba com 16 anos de domínio político do PSB à frente do Governo do Estado, o partido foi o que mais elegeu deputados estaduais em 2022, no total de 14 parlamentares, mais até do que em 2018, quando ficou com 11 vagas.

O segundo partido com mais deputados eleitos é o PP, com 8, seguido do PL e União Brasil, com 5 cada um; PT, PV, PSDB e Solidariedade elegeram cada um outros três parlamentares; enquanto Republicanos, PCdoB, Patriota e PSOL conseguiram fazer um deputado cada.

Se levarmos em conta as alianças políticas construídas pelas cinco principais candidaturas ao Governo de Pernambuco, os partidos que apoiaram Danilo fizeram a maior bancada, com 31 deputados que, agora, serão disputados por Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB) no enfrentamento do segundo-turno. Além de outros 12 parlamentares eleitos que apoiaram as candidaturas de Anderson Ferreira (PL), Miguel Coelho (União Brasil) e João Arnaldo (PSOL).

VEJA A LISTA DOS DEPUTADOS ESTADUAIS ELEITOS PARA A LEGISLATURA 2023-2026 NA ALEPE

Pastor Junior Tercio (PP) -183.733
Coronel Alberto Feitosa (PL) -146.842
Delegada Gleide Angelo (PSB) -118.869
Antonio Coelho (UNIÃO) -91.698
Rodrigo Novaes (PSB) -85.107
Eriberto Filho (PSB) – 78.979
João Paulo (PT) -74.441
Gilmar Junior (PV) -68.359
Chaparral (UNIÃO) -66.842
Francismar (PSB) -66.621
Gustavo Gouveia (SD) -66.031
Doriel (PT) -65.837
Aglailson Victor (PSB) -64.714
Romero Sales Filho (UNIÃO) -64.366
Luciano Duque (SD) -61.373
Dannilo Godoy – (PSB) -56.366
William Brigido – (REPU) -55.358
Antonio Moraes – (PP) – 54.756
Claudiano Filho – (PP) -53.024
Simone Santana (PSB) -53.001
France Hacker (PSB) – 52.009
Adalto Santos (PP) -51.370
Jeferson Timóteo (PP) -51.324
Debora Almeida (PSDB) -51.282
Pastor Cleiton Collins (PP) -50.510
Fabrizio Ferraz (SD) -48.793
Mario Ricardo (REPU) -48.699
Joaquim Lira (PV) -48.293
Romero (UNIÃO) -46.344
Renato Antunes (PL) -46.224
Alvaro Porto (PSDB) -46.026
Kaio Maniçoba (PP) -45.791
Jarbas Filho (PSB) -45.331
Rodrigo Farias (PSB) -45.220
Waldemar Borges (PSB) -44.857
Henrique Queiroz Filho (PP) -43.822
José Patriota (PSB) -43.584
Abimael Santos (PL) -43.530
Sileno (PSB) -43.195
Diogo Moraes (PSB) -43.116
Rosa Amorim (PT) -42.632
João Paulo Costa (PC DO B) -42.473

Dani Portela (PSOL) – 38.215

Joel da Harpa (PL) -35.938
Socorro Pimentel (UNIÃO) -35.515

João de Nadegi (PV) -29.019
Joãozinho Tenório (PATRI) – 28.048

Izaias Regis (PSDB) -27.104

Nino de Enoque (PL) -24.851

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AUTOR
Foto Laércio Portela
Laércio Portela

Co-autor do livro e da série de TV Vulneráveis e dos documentários Bora Ocupar e Território Suape, foi editor de política do Diário de Pernambuco, assessor de comunicação do Ministério da Saúde e secretário-adjunto de imprensa da Presidência da República