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O que os números dizem sobre a participação das mulheres nas eleições 2020?

Marco Zero Conteúdo / 02/12/2020

Mais candidatas, sim. Votações recorde também. Mas, no geral, o percentual de mulheres eleitas não ficou muito diferente das eleições passadas e a sub-representação nos espaços de poder permanece. Nas mais de 5 mil prefeituras do Brasil, apenas 12% serão comandadas por mulheres a partir de 2021.

Apenas uma capital terá uma prefeita: Palmas, no Tocantins, elegeu Cinthia Ribeiro (PSDB). Citnhia era vice de Carlos Amshta (PSB), que foi eleito em 2016 e renunciou dois anos depois para concorrer ao governo.

Levantamento da Gênero e Número aponta que foram 658 prefeitas eleitas (13%), contra 4.800 prefeitos (87%) no Brasil. O segundo turno foi especialmente difícil para as candidatas. Das cinco mulheres que disputavam capitais, nenhuma conseguiu se eleger domingo. Mas do total de 57 cidades com segundo turno, 20 serão comandadas por mulheres em 2021.

Nas eleições municipais de 2016, foram eleitas 641 mulheres para o cargo de prefeita, representando 11,57% do total. No pleito passado, também apenas uma mulher foi eleita prefeita de uma capital: Teresa Surita (PMDB), em Boa Vista (RR).

Já para as câmaras municipais, dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) destas eleições de 2020 revelam que foram 9.196 vereadoras eleitas (16%), contra 48.265 vereadores (84%). Entre as capitais brasileiras, quem mais elegeu mulheres para a câmara municipal foi Porto Alegre (RS). Dos 36 eleitos, 11 são mulheres (30,6%) e 25 são homens (69,4%). João Pessoa (PB) tem a pior proporção: apenas uma mulher (3,70%), contra 26 homens (96,3%). No Recife, o percentual ficou em 17,9%.

Cotas de eleitas

Em novembro, ainda antes do primeiro turno, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou em entrevista à emissora CNN Brasil que iria pautar uma proposta de emenda à Constituição para instituir cota para mulheres nas câmaras de vereadores, assembleias legislativas e na Câmara dos Deputados. As cotas seriam de cadeiras, e não de candidaturas – essas, já existem e são de 30%.

Na proposta da bancada feminina na Câmara, que seria a que Maia iria pautar, a previsão é de cota de apenas 10% das vagas na próxima legislatura, que começará em 2023. O escalonamento da proposta prevê 12% e 16% paras as eleições seguintes.

Os percentuais da proposta são baixos até quando comparados com a atual situação da Câmara Federal. Hoje, são 77 mulheres e 436 homens, representando 15% do total da casa. No Senado, as mulheres representam 14% dos 81 parlamentares. A PEC ainda não entrou na pauta de votação da Câmara.

Projeto Adalgisas

Por mais de dois meses, o projeto Adalgisas acompanhou as candidaturas das mulheres nas eleições em Pernambuco. Foram quase 40 reportagens, entrevistas e artigos além dezapcastscom informações importantes para serem compartilhados pelo WhatsApp e uma newsletter com conteúdos exclusivos.

Ao lado do Centro das Mulheres do Cabo e do SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia, produzimos um programa de rádio em parceria com o Fora da Curva, projeto de extensão do Departamento de Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Os programas tiveram as participações de 14 mulheres especialistas em várias áreas, como saúde, mobilidade, educação, política, feminismos, entre outros. Os seis episódios doprojeto Adalgisas no Fora da Curva estão disponíveis no YouTube.

Focamos em uma cobertura ampla, entrevistando as três então candidatas à prefeitura do Recife, mas também falando sobre os desafios dasmulheres que se candidataram coletivamente. Outro tema recorrenteem entrevistase reportagens foramas violências que as mulheres enfrentaram nesse processo eleitoral. Também falamosdas candidatas de axé e suas propostas.

As candidaturas das mulheres do interior de Pernambuco tiveram uma extensa cobertura, por meio de uma parceria com a equipe dereportagem do Observatório da Vida Agreste (OVA).

Após as eleições, o Adalgisas publicou uma série de balanços. A partir da vitória darecordista de votos em Aracaju, Linda Brasil (Psol), falamos sobre a participação das mulheres trans nessa eleição. Antes, já havíamos escrito sobre Paulette, aúnica vereadora transexual de Pernambuco.

As candidaturas das mulheres negras e pretas, um dos grandes destaques desse ano, foram temas de várias matérias.Nesta daqui, um balanço da importância dessas candidaturas, que representam a maior fatia da população brasileira.

Aqui, fizemos um balanço geral de como serão ascâmaras municipais dos 14 municípios da Região Metropolitana do Recifea partir do ano que vem, trazendo o recorte de gênero. Focamos também em Jaboatão dos Guararapes,que tem apenas uma mulher eleita.

Na capital,entrevistamos Dani Portela (Psol), mulher negra e feminista, mais votada neste ano. E falamos sobre como a Câmara Municipal do Recife vai ter pela primeira vez na história três vereadoras feministas,que propõe uma coalização.

O projeto Adalgisas contou ainda com colaborações especialíssimas nesta segunda temporada. Na seçãoDiálogos, em que a Marco Zero publica artigos de opinião, articulistas convidadas escreveram sobreeducação antirracista nesses tempos de pandemia, sobre osplanos de governo para a educação, osdesafios da política em tempos de bolsonarismo, aparticipação das mulheres negrasnas eleições, as candidaturas coletivas e afalta de representação. Tivemos também a plataformaMeu voto será feministafazendo umbalanço do que representou as eleições 2020.

Agradecemos imensamente pelo apoio das nossas leitoras e leitores e a todas as mulheres e organizações que participaram dessa edição do Adalgisas. Continuamos a acompanhar na Marco Zero Conteúdo as mulheres que fazem política em Pernambuco, com ou sem mandato. E voltamos com tudo nas próximas eleições. Até lá!

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Marco Zero Conteúdo

É um coletivo de jornalismo investigativo que aposta em matérias aprofundadas, independentes e de interesse público.