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Retrospectiva // A pandemia que não deixou 2020 começar ou terminar

Maria Carolina Santos / 30/12/2020

Foram quase 200 mil mortes por Covid-19 em 2020. Crédito: Veetmano/Agência JC Mazella

Quando daqui a cem ou duzentos anos falarem do ano de 2020 é pela pandemia do coronavírus que ele será lembrado. É um ano que, de certa forma, não começou. E que também não vai acabar: a pandemia está em nova alta no mundo e ruma forte para 2021. Foi um ano atípico em tudo. Das íntimas relações familiares ao trabalho, ou a falta dele. Um ano em que quase 200 mil vidas foram perdidas no Brasil para o coronavírus e quase 2 milhões ao redor do mundo.

Em meio a isso tudo, o jornalismo da Marco Zero Conteúdo não parou. Precisou se reinventar, para proteger a nós jornalistas, fontes, personagens. Fizemos, e continuamos a fazer, uma cobertura extensa e densa sobre a pandemia que parou o mundo. Até hoje foram mais de 170 conteúdos publicados entre reportagens e artigos.

O coronavírus apareceu na Marco Zero pela primeira vez em fevereiro, en passant. Voltou no começo de março como pandemia: o negacionismo de Bolsonaro já se desenhava com um pronunciamento oficial na televisão, dias antes de uma passeata em apoio a ele.

Ali no comecinho, acompanhamos o drama de turistas que não conseguiam voltar para o Brasil. Naquela época, o coronavírus ainda parecia algo que poderia se resolver em alguns meses.

Ledo engano.

Não demorou para que a pandemia viesse parar bem na nossa frente, com o Brasil galopando nos casos e o caos se instaurando na saúde. A robustez e capilaridade do Sistema Único de Saúde (SUS) não foram suficientes para evitar o colapso da saúde diante da incompetência criminosa do Governo Federal, que não elaborou uma estratégia de combate ao vírus, obrigando estados e prefeituras, descoordenadamente, a lidarem com toda a complexidade de uma pandemia.

Corredor do Hospital Otávio de Freitas

O caos e a luta dos profissionais de saúde

Em fevereiro, o sindicato dos técnicos e auxiliares de enfermagem já denunciavam que o Estado de Pernambuco não ia ter condições de combater o coronavírus. Cobrimos o caos e o colapso na saúde, que já vitimou quase 10 mil pernambucanos. Faltaram equipamentos e profissionais.

As mortes de colegas elevaram o medo e a angústia de técnicas de enfermagem que trabalhavam (e trabalham) sem EPIs adequados. Toda essa luta cobrou um alto preço na saúde mental dos profissionais de saúde. Mesmo sob pressão e invisibilizados, assistentes sociais garantiram direitos a famílias de pacientes com Covid-19.

No interior, a situação também foi e segue dramática. Acompanhamos a chegada do vírus ao Sertão e mostramos que faltaram leitos de UTI para responder à expansão do coronavírus.

Contamos histórias de vida e morte no hospital de campanha. E as histórias de dor e superação de quem sobreviveu à Covid-19.

Os mais vulneráveis

Indígenas, imigrantes, quilombolas, populações periféricas, moradores de rua, detentos. Se essas pessoas eram mais vulneráveis antes da pandemia, com ela ficaram em situações ainda mais calamitosa. Em junho, mostramos que os indígenas montaram suas próprias estratégias para combater o coronavírus.

Denunciamos a situação dos indígenas venezuelanos da etnia Warao. E moradores de rua expostos ao coronavírus sem assistência alguma.

Em abril, quilombolas temiam impacto do coronavírus e sofriam com descaso. Seis meses depois, mostramos que comunidades quilombolas passam por um agravamento da insegurança alimentar e nutricional.

A falta de água e da presença do Estado aprofundou as desigualdades estruturais nas periferias. Mas também houve resistência. A comunicação produzida nos territórios enfrentou a rede de desinformação sobre o coronavírus. Com o edital Território Vivo, as comunidades mostraram na Marco Zero como a pandemia aumentou a perda de direitos.

E falamos que a a doença acentua a invisibilidade dos povos ciganos que vivem em Pernambuco. Nos presídios, a rotina foi de desamparo.

Violência em casa

Nos primeiros seis meses de pandemia, três mulheres foram mortas a cada dia, em crimes motivados pela condição de gênero, que caracteriza feminicídio. A violência contra as mulheres em 2020 foi tema de uma série de reportagens especiais da Marco Zero em parceria com Amazônia Real, AzMina, #Colabora, Eco Nordeste, Portal Catarinas e Ponte Jornalismo.

Leia aqui o especial Um vírus e duas guerras.

A ilusão da cloroquina

Ainda em março, ganhou destaque um estudo francês que mostrava boa resposta da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19. In vitro, a droga já havia se mostrado bastante eficiente contra o vírus. Mesmo desmentido nos meses seguintes, o estudo e a cloroquina foram abraçados pela extrema direita de todo o mundo. Mas talvez não tenha causado tantos danos quanto no Brasil, que gastou milhões na compra da ineficaz droga.

A cloroquina virou uma pauta política e uma bandeira de Bolsonaro. Com o sistema de saúde em colapso, a falsa esperança foi usada por médicos com patrocínio político e planos de saúde. Mesmo com evidências científicas robustas de que a medicação não só é ineficaz mas pode fazer mal a pessoas debilitadas pelo vírus, o plano de saúde Hapvida ainda obriga médicos a receitar cloroquina.

Desinformação, outra pandemia

A cloroquina foi um dos temas mais recorrentes da indústria de notícias falsas, as fake news. Em maio, publicamos que organizações denunciaram a rádio evangélica Novas de Paz por promover desinformação sobre o coronavírus. Em outubro, a Marco Zero passou a integrar o projeto Comprova, para combater desinformação relacionada à Covid-19. Publicamos vários desmentidos.

Primeiro-ministro inglês Boris Johnson observa Lyn tomar vacina Covid-19. Foto de Andrew Parsons / Nº 10 Downing Street

Vacina, a luz no fim do túnel

Com o descontrole da pandemia não só no Brasil, mas em boa parte da Europa e dos Estados Unidos, ficou cada vez mais claro que o Ocidente não iria dar conta de conter o vírus. A vacina virou a a única luz no fim do túnel possível.

Em agosto, mostramos que não basta a vacina existir, é um longo e tortuoso caminho até que boa parte da população esteja vacinada, o que garante a imunidade coletiva. Agora, em dezembro, assistimos o triunfo da ciência com países da Europa e dos Estados Unidos iniciando seus programas de vacinação.

O Brasil, novamente, ficou para trás. Sem liderança do Governo Federal, a vacinação pode ser prejudicada. Ainda não há nenhuma vacina aprovada para uso no Brasil. E nem a Coronavac nem a vacina de Oxford/AstraZeneca, principais apostas para a vacinação em massa no Brasil, estão aptas para uso em 2020.

Fim do ano, tudo igual

Em setembro, dissemos que ia ser muito difícil nos livramos do coronavírus. Chegamos ao fim do ano muito longe de estarmos no fim da pandemia. Pelo contrário. Se tivemos alguns poucos meses de descida, agora os números de casos e mortes voltam a escalar ameaçadoramente.

Um novo pico é esperado. E dessa vez sem auxílio emergencial e sem medidas restritivas mais fortes. Agora em dezembro, voltamos a denunciar as unidades de saúde lotadas e a falta de macas que custam vidas.

E, apesar de recomendar que famílias não se encontrem, fizemos um guia de como se reunir com certa segurança no Natal e Ano Novo.

Para fechar o ano sobre coronavírus, mostramos o que especialistas em saúde esperam para 2021. O ano de 2020 se vai, mas os problemas causados ou ampliados pelo coronavírus continuam. E vamos continuar com a nossa cobertura da pandemia, cada vez mais perto e comprometida com nossos leitores e assinantes.

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AUTOR
Foto Maria Carolina Santos
Maria Carolina Santos

Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Ávida leitora de romances, gosta de escrever sobre tecnologia, política e cultura. Contato: carolsantos@gmail.com